Simplificando Cinema #77
MinC e Ancine divulgam novos investimentos para o audiovisual | Netflix e MAX são autuadas na Argentina por abusos ao consumidor | Film Commission da Costa Rica busca parceria com mercados asiáticos
Nas últimas semanas, a Ancine divulgou mais duas Chamadas Públicas para investimentos no audiovisual via FSA. Os novos editais são destinados para a produção independente (R$160 milhões) e para o desempenho comercial de distribuidoras independentes (R$140 milhões).
Embora em sua nota a Agência diga que vai se comprometer em avaliar projetos com base em novos talentos e “empreendedores”, segue a avaliação por classificação de nível. Ou seja, você já precisa ter projetos lançados como iniciante para ter a chance de ganhar.
No caso das distribuidoras, o edital, que ainda possui um baixo orçamento frente às necessidades do setor de distribuição, está destinado para as empresas independentes que tenham tido uma receita bruta satisfatória de bilheteria.
Uma revisão maior das regras de inscrição se faz necessária frente aos resultados do cinema brasileiro em 2024. Mesmo com a cota de tela ainda em implementação, conglomerados estrangeiros irão encerrar o ano com uma participação beirando os 50%. (Site oficial da Ancine)
INCAA muda regras para conceder apoio público aos projetos audiovisuais
Parece brincadeira, mas os novos editais do INCAA (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais) da Argentina se assemelham, em muito, com algumas regras da Ancine.
Na última terça-feira (05/11), o governo Milei editou o artigo 30 da Lei de Fomento da Atividade Cinematográfica e passou a exigir critérios como qualidade, audiência e eficiência das produções.
Segundo a gestão federal, a decisão tem como base a queda de 7,35% dos filmes argentinos em 2023, que não tinham mudanças significativas de público desde 2014. Ironicamente, ou não, o governo esquece que fatores como a recuperação pós-Covid no setor exibidor e a crise econômica cada vez maior no país tem afastado significativamente o público das salas de cinema.
Além disso, os novos fomentos não devem passar de 50% dos custos da produção, o que força muitas empresas independentes a irem buscar recursos privados, que por sua vez devem ter a chance de ouro de cooptar o mercado argentino de assalto. (No ElDiarioAr)
Netflix e MAX são obrigadas a mudar cláusulas abusivas de serviço na Argentina
A medida de obrigar que plataformas de streaming tenham seus cadastros como empresas ativas na Argentina, ainda na gestão de Alberto Fernández, gerou seus primeiros frutos: a Diretoria de Defesa do Consumidor de Buenos Aires (algo semelhante ao PROCON brasileiro) exigiu a mudança de cláusulas abusivas nos contratos dos clientes da Netflix e MAX, e as empresas atenderam de prontidão.
Entre os abusos cometidos pelas empresas, estava a limitação de responsabilidade por falhas do próprio serviço, negando reembolsos ou qualquer outro tipo de compensação por problemas operacionais.
Outro tipo de abuso recorrente identificado pelo órgão, foi o cancelamento de assinaturas sem o consentimento dos próprios clientes, bem como o aumento abusivo dos preços ao forçarem um novo contrato.
Embora as plataformas já tenham se regularizado, o investigador do caso, Fernando Krakowiak, não deixou de chamar atenção para a falta efetiva da regulamentação do streaming, citando o debate já muito atrasado pelo Mercosul e que já teve grande efetividade na Europa desde 2018. (No Observacom)
Cinema e Terror na América Latina
Desde que o cinema é cinema temos filmes de terror. É um gênero que fascina muita gente, com inúmeros subgêneros. Apesar de se complementarem, o terror e o horror flertam com diferenças sutis, mas importantes. O terror causa a expectativa do medo e o horror é o que causa o impacto do ato, do visual, da imagem que causa uma reação imediata. Mas não seria sobre isso o nosso assunto e sim, indicar filmes de terror.
O terror na América Latina que quase soa redundante. As dicas são por ocasião do Halloween ou o Dia das Bruxas e de preferência, ou por nossa natureza, vamos indicar filmes latino-americanos que Flertam com o Fantástico. O dia 31 de outubro, o dia do Halloween, tem tudo a ver com o nosso clássico, do nosso santo padroeiro, José Mujica Marins ou o Zé do Caixão, “A Meia Noite Levarei a sua Alma”, de 1964, esse é básico e todos os amantes do cinema brasileiro celebram esse filme a meia-noite, ou deveria, pelo tamanho da expressividade desse filme, um clássico mundial, inclusive. O filme está disponível gratuitamente no SPcine Play.
Todos sabemos que o Halloween é uma cultura da gringa, mas existe a tese de que teria elementos da nossa cultura no Dia das Bruxas, como está representado no curta o “O Medo dos Vivos”, dirigido por Maia Silva, professor do Olodum Sul em Florianópolis. Mas o curta continua em circuito de Festival. É um primoroso terror e suspense infantil com a participação dos alunos do Olodum Sul.
Já no México, o dia 31 de outubro se confunde com o dia 2 de novembro, o dia dos Mortos, um dia de festa para os mexicanos, uma festa cultural e tradicional. Temos excelentes filmes de terror, mas o que chama a atenção é o longa “Veneno Para Las Hadas”, do mexicano, Carlos Enrique Taboada, de 1986. Um filme que trata do universo infantil através do imaginário e da fantasia que acaba ganhando proporções de terror. Temos diversos filmes na cinematografia mundial sobre a relação do comportamento e do imaginário infantil com o terror. É um ótimo tema para se debater. O filme está disponível na FILMICCA.
A Colômbia também nos fornece excelentes filmes de terror com fortes críticas às diferenças sociais no país, no qual estou me referindo ao longa “Pura Sangre”, de Luis Ospina, 1982, do Grupo de Cali, composto também por Carlos Mayolo, que também é protagonista do filme. A obra representa uma história de um Vampiro, um rico empresário que depende do sangue dos pobres, da classe operária. Filme disponível no Canal do Mirror São no YouTube:
A animação chilena é de fato arrepiante e tem tirado o sono de muita gente, no qual destaco o curta-metragem “Bestia”, de Hugo Covarrubias, 2021, disponível na Mubi. O filme representa a história de um agente da DINA, polícia secreta da ditadura militar chilena, que torturava pessoas com o uso de cães adestrados. Foi baseado em fatos reais. Imperdível.
No Brasil se produz em média 150 filmes por ano, esse número se refere aos filmes aprovados por editais que tem financiamento da ANCINE e de outros órgãos do governo. E os filmes sub notificados, realizados com financiamento próprio ou arrecadação coletiva, a famosa “vaquinha”? Temos muitos filmes realizados dessa forma no país e um dos exemplos mais conhecidos é a galera de Palmitos – SC da Canibal Filmes, liderado por Petter Baiestorf, um dos mestres do Gore Nacional, o coletivo já produziu mais de 100 filmes, entre eles os clássicos: “O Monstro Legume do Espaço” (1995) e “Arrombada: Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo!!!”, de 2007. Um cinema que surge nos tempos fúnebres do cinema brasileiro no governo Collor. Os filmes estão disponíveis no canal do YouTube do próprio Petter:
Vamos fechar as dicas com uma “pedrada”, um dos filmes de terror mais comentados neste ano, o longa argentino “O Mal que nos Habita”, de Demián Rugna, 2023. Disponível na Netflix, uma alegoria da violência, resolvida com violência, acaba nascendo mais violência, esse grande circo vicioso, mas com um toque bastante peculiar, acaba ficando longe de ser mais um filme de possessão.
Não podemos deixar de indicar o nosso “Propriedade”, de Daniel Bandeira, 2022. Um excelente filme sobre a luta de classes que toma proporções justas de um legítimo filme de terror. Também se trata do círculo vicioso da violência, se tornando um caminho árduo e sem fim, mas representa uma classe disposta a se levantar contra o opressor. Um filme com muitos detalhes que constroem uma narrativa sólida e que permite entender o ato de revolta do trabalhador. Disponível na Netflix.
Temos um universo do terror na América Latina com excelentes filmes e que não poderia ser diferente, de uma colonização que nos deixou uma herança maldita, com profundas marcas causadas pela violência, genocídios e epistêmicos de muitos povos da América Latina. Então temos onde nos inspirar. Bons filmes!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Film Commission da Costa Rica deve fechar parceria com mercado audiovisual asiático
Em julho, a Film Commission da Costa Rica ganhou uma nova diretora: Marysela Zamora-Villalobos. De lá para cá, a nova diretoria do órgão tem buscado cumprir com a missão de unir o país em torno da importância do mercado cinematográfico.
Em entrevista ao Latam Cinema, Zamora afirmou que já mapeou todas as prefeituras do país em busca de diálogo e criação de programas em parceria com a Film Commission e o setor privado.
Além disso, Marysela chama atenção para a construção de laços com o mercado asiático. Com a evidência cada vez maior de que o mercado norte-americano apenas serve como exploração da mão de obra latina, países como Coreia do Sul e China vêm se tornando parceiros em potenciais, já que buscam o crescimento mútuo.
Mesmo tendo assumido há poucos meses, Zamora conseguiu trazer de volta para a Costa Rica a posição de maior mercado audiovisual da América Central, voltando a frequentar grandes festivais de cinema pelo mundo, algo que havia sido abandonado pela última gestão.
Festival de Cinema no Peru impulsiona participação da comunidade indígena na produção cinematográfica
A 15ª edição do Festival Internacional de Cinema e Comunicação dos Povos Indígenas vai oferecer, pela primeira vez, oficinas para a formação de profissionais que façam parte das comunidades indígenas no Peru.
O objetivo da capacitação é formar jovens e adultos que sejam capazes de trazer trabalhos mais congruentes com a realidade indígena do país.
Segundo Jeanette Paillán, cineasta chilena que pertence ao povo Mapuche, a iniciativa coloca uma nova perspectiva para o telespectador dos projetos audiovisuais, já que quando representados por não-indígenas, certas problemáticas não são levadas tão a sério como deveriam.
Além das oficinas profissionalizantes, o festival terá exibição de filmes de comunidades indígenas de toda América Latina. A próxima edição está marcada para o mês de junho de 2025. (No InfoBae)