Simplificando Cinema #100
Chegamos a nossa centésima edição e só temos a agradecer a você, leitor(a)(e), por continuar conosco!
A newsletter Simplificando Cinema está chegando a sua centésima edição e eu não poderia deixar de agradecer a todos os assinantes e colaboradores que ajudam a manter este projeto no ar.
Criada com o intuito de informar e – muito talvez – educar, nossa publicação tem por objetivo transformar o olhar dos nossos leitores e aproximá-los para a produção, incentivo e desenvolvimento do audiovisual latino.
Cada dica de filme, cada notícia sobre fundo de fomento e resultados de cotas de tela, investimentos e afins, é cuidadosamente buscado e escrito para que todos(as)(es) construam uma opinião e uma visão diversa sobre o que o cinema pode ser.
Não chegaria nesta edição sem o apoio contínuo do Angelo Corti e do Felipe Teixeira, responsáveis pela publicação de recomendações e notícias do mercado, realizando um trabalho profissional e cada vez com mais qualidade a cada edição que passa.
Nestes quase 3 anos de newsletter e vencendo alguns problemas em off que atrasam ainda algumas publicações às vezes, chegamos a mais de 2 mil inscritos e uma taxa de abertura de quase mil pessoas a cada sábado, o que demonstra que a nossa publicação gera interesse além da mecânica de inscrição.
O Simplificando Cinema nasceu em 2019 para ser um blog de conteúdo a desmentir crenças, achismos e fake news que nos rondam a todo momento. De lá para cá, análises e estudos cada vez mais precisos fizeram parte do meu dia a dia, em especial na questão da regulamentação do streaming, que quem for mais antigo vai se lembrar que o Simplificando acompanhou e informou, por outras redes, a conquista dessa legislação ao redor da Europa e também do Canadá.
Os desafios políticos e econômicos do audiovisual estarão sempre presentes no nosso dia a dia enquanto consumidores e trabalhadores desta indústria criativa, mas com a certeza de que o Simplificando Cinema continuará informando, construindo e sendo uma linha editorial sem meias verdades ou panos quentes. Tenho orgulho de termos construído uma comunicação sincera, sem rodeios e trazendo explicações profundas sobre os problemas que atravessamos.
Esperamos que você continue nos acompanhando para outras 100 edições.
Muito obrigada,
Marina Rodrigues, idealizadora do projeto Simplificando Cinema.
Ancine lança novos painéis para acompanhando de dados do audiovisual
No último dia 27, terça-feira, a Ancine anunciou o lançamento de novos painéis interativos e a reformulação de outros no Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovosual, o OCA. Na aba Obras Audiovisuais, dois novos painéis foram introduzidos, o Painel Registro de Títulos de Obras Não Publicitárias e o Painel Registro de Títulos de Obras Publicitárias. O primeiro possui informação de registro de mais de 178.000 obras emitidas pela Ancine desde 2002, já o segundo possui dados de mais de 500.000 registros de obras publicitárias do audiovisual emitidos pela agência desde 2013, ambos foram elaborados com base na emissão de Certificados de Registro de Títulos, os CRTs, além de detalhar registros por ano, localidade do requerente, classificação, tipo de obra, segmento de mercado de veiculação, no caso das não publicitárias, informações sobre condecine.
O Painel de Coproduções Internacionais passou por mudanças e agora conta duas abas, sendo que a primeira detalha o quantitativo de Certificados de Produto Brasileiro, os CPBs, em coprodução emitidos anualmente, segmentados pela participação patrimonial brasileira (minoritária, igualitária ou majoritária). A segunda aba informa o quantitativo anual de certificados, especificando o uso ou não de acordos de coprodução internacional
Outra seção totalmente renovada foi o Painel de Produtoras Brasileiras Independentes e Classificação de Nível, que pode ser encontrado na aba de Agentes Econômicos do Setor Audiovisual . A agência ainda informou que nos próximos meses será adicionado um novo painel, o Painel de Indicadores do Mercado de TV Paga.
Nós do Simplificando Cinema ficamos felizes com as atualizações e as melhores feitas em uma plataforma que já era tão rica como o OCA. Se mais pessoas soubessem de sua existência e quisessem procurar dados antes de falar tantas asneiras, a dona deste projeto talvez não tivesse que corrigir tanta bobagem na internet de pessoas que acreditam piamente que oferta e demanda explicam tudo no mercado audiovisual brasileiro, seja o de exibidores, de TV paga ou de streaming.
BNDES aprova investimento de R$25 milhões para Paris Filmes distribuir obras audiovisuais
Nem parece que o setor audiovisual brasileiro vem passando por uma intenção pressão para a aprovação de uma legislação fraca para as plataformas de streaming, com descontos da alíquota de Condecine beirando os 70%, para que o Banco Nacional de Desenvolvimento, por meio do mesmo Fundo Setorial do Audiovisual que pode ser sequestrado por conglomerados estrangeiros, aprove R$25 milhões para que a gigante Paris Filmes brinque de distribuir filmes.
O buraco desta notícia acaba sendo maior quando temos a principal associação dos distribuidores independente (ANDAI) fazendo um apelo contínuo e desesperado para o resgate das linhas de distribuição pelo mesmo FSA, algo parado desde 2018 e até o momento sem grandes resoluções aparentes.
A justificativa para tal investimento isolado está nos dados fornecidos pela Paris Filmes: em 2023 foram 36 títulos lançados, com uma média de R$9,3 milhões de ingressos vendidos, representando 7,95% do público total.
No entanto, vale lembrar que a Paris Filmes não é uma distribuidora exclusiva de filmes brasileiros, pelo contrário, alguns dos seus maiores títulos são estrangeiros, o que não necessariamente representa progresso para a indústria nacional. (No portal do próprio BNDES)
Cine Resistência - Mulheres no Comando
Essa semana os brasileiros presenciaram mais um show de horrores patrocinado pelos nossos políticos, dessa vez do Senado Federal, com uma demonstração de desrespeito, machismo e misoginia com a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e tudo o que ela representa na política brasileira e internacional e todo o seu histórico de luta ao lado de Chico Mendes pela defesa da Floresta Amazônica. Foi uma cena horrível, com muita repercussão e indignação. Infelizmente o conselho de ética no Brasil só funciona para quem chuta fascista.
O lugar da mulher é onde ela quiser estar e quem ela quiser ser e sua voz deve ser respeitada, faz parte de uma luta constante. Inclusive precisamos de mais mulheres em todos os setores, pois elas representam mais de 50% da população, principalmente no cinema, que continua sendo um universo predominantemente masculino. Temos muitas provas de que o cinema precisa de mulheres dirigindo filmes, pois o cuidado, o olhar, a abordagem é completamente outra.
Na história do cinema latino-americano as mulheres se destacam como uma voz ativa, participante, contestadora, reivindicando maior participação na política e na sociedade. Apesar da desigualdade no setor. Nas décadas de 1950 e 1960, apesar de serem décadas revolucionárias, porém, a sociedade é incapaz de se desvencilhar do conservadorismo. No Cinema Cubano, Sara Gómez (Sarita), em sua obra cinematográfica recém restaurada e disponibilizada na plataforma de streaming da FILMICCA com 15 obras de sua autoria, deixa evidente um problema sério de uma revolução, o conservadorismo. Evidencia um conservadorismo sem lados.
Em seu único longa-metragem “De Cierta Manera”, de 1974, Sarita consolida seu ativismo feminista trazendo uma protagonista, independente e letrada, comprometida com a Revolução Cubana e todas as suas contradições, se contrapondo com seu namorado com uma visão machista. Sarita foi uma das primeiras mulheres negras a dirigir filmes em Cuba e a primeira diretora mulher do ICAIC (Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos). Em todo o seu trabalho está impresso a negritude e a presença das mulheres. No média-metragem “Minha Contribuição”, de 1969, trata mais diretamente do protagonismo feminino na Revolução Cubana, trazendo as mulheres para o debate, o pensamento da mulher cubana sobre seu papel na Revolução e na família, estão presentes. Apenas mulheres falam e se criticam. Cada uma com seu ponto de vista. Um filme maravilhoso e importante em nossa cinematografia.
Na Revolução Sandinista nenhum homem se atreveria a dizer para Dora Maria Téllez, Comandante do Exército Sandinista, a se colocar em seu lugar. No magistral “Las Sandinistas”, da estadunidense Jenny Murray, 2018, representa com maestria o protagonismo feminino na Revolução Sandinista na Nicarágua, com um rico arquivo de imagens, mesclado com entrevistas atuais, de mulheres que estiveram na frente de batalha com arma na mão fazendo história. A Comandante Dora Maria Téllez foi fundamental na queda do ditador Somoza com a tomada do Palácio Nacional em Manágua, em 19 de julho de 1979. O filme infelizmente não está disponível no Streaming.
Nossa primeira cineasta negra, Adélia Sampaio, realizava, em 1984, o longa-metragem, “Amor Maldito”, um filme de tribunal representando a história de duas amantes, em uma sociedade conservadora, religiosa e hipócrita. Um marco no cinema e mostra a força da mulher negra num universo machista e racista realizando um longa-metragem. O filme está disponível em ótima qualidade no Canal de Adélia Sampaio no YouTube
A Costa Rica é um país com algumas peculiaridades importantes, em 1948 aboliu seu exército para investir em Educação e Saúde, mas não foi o suficiente para aliviar o conservadorismo. O país tem apresentado um crescimento da influência evangélica na política e entre os jovens, mas tem se destacado no cinema graças às mulheres do país, que vêm realizando excelentes filmes sendo reconhecidos em grandes festivais internacionais representando aspectos do país como o conservadorismo na sociedade costarricense.
No filme “El Despertar de las Hormigas”, de Antonella Sudasassi, 2018, temos a representação de uma família tradicional, no qual a mulher é oprimida por não decidir sobre seu próprio corpo para atender os anseios de uma sociedade. Ou seja, o corpo da mulher pertence a uma sociedade machista que decide seu destino. O filme está disponível para aluguel no Google Play.
Estamos torcendo para que o cinema argentino consiga sobreviver ao nefasto governo de Milei, que vem agindo como os ditadores da junta militar, no período da última ditadura, perseguindo a cultura. O Cinema Argentino tem uma forte tradição no cinema mundial e recentemente vinha sendo renovado por jovens cineastas mulheres representando o país mundo afora. "La botera", de Sabrina Blanco, 2019, que estreia em longa-metragem, traz uma história de amadurecimento de uma adolescente que vive solitária em um bairro de fragilidade social e tem como sonho ter seu próprio barco e ter seu próprio sustento. Representa a força feminina de lutar pelos seus ideais e objetivos, sob as dificuldades impostas pelo machismo e as diferenças sociais. O filme está disponível na FILMICCA.
O conservadorismo que hoje vem sendo defendido por uma boa porcentagem da sociedade, para não dizer lamentavelmente que é a maioria, é um paralelepípedo no sapato, pois sabemos o quanto rola de hipocrisia no cidadão de bem. O conservadorismo se tornou um verdadeiro problema para o desenvolvimento do país, que vem colocando em risco de forma desnecessária a própria democracia.
As dicas de hoje mostram mulheres que desafiam essa sociedade e demarcam uma luta incessante e que sempre haverá resistência. Nossa solidariedade à Ministra Marina Silva, pois sua luta é de extrema importância e as questões do meio ambiente nunca foram tão urgentes.
Bom filme a todes!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Indústria audiovisual argentina entra em colapso
É mais que sabido entre as pessoas que conhecem a situação do audiovisual argentino, e que não são canalhas ao ponto de negarem, que o projeto liderado por Milei tem por objetivo a destruição completa não apenas do mercado audiovisual argentino, mas deixá-lo em um ponto tão crítico, tão esvaziado, tão precarizado, que os profissionais comecem a enxergar na iniciativa privada, principalmente a parte do streaming, uma salvação, pois como diz o ditado: para quem está se afogando jacaré vira tronco.
O Milei cortou todos os investimentos públicos no Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), o cinema argentino está dependente de coproduções, sua participação em Cannes em 2025 foi praticamente nula como noticiamos algumas semanas atrás, e se um filme não é visto, não é levado para parcerias comerciais, ele pode ser a maior obra da história da humanidade, mas ficará relegado a poucas salas em seu país de origem.
Os festivais argentinos também foram alvos da administração Milei, a Resolução 16/2024 suspendeu o apoio aos festivais argentinos. Quem é do meio ou quem acompanha o audiovisual latino, sempre teve a Argentina como um farol, alguns não souberam interpretar como eles chegaram lá, acreditaram que o sucesso dos hermanos estava ligado a algum tipo de capacidade que só eles possuem, mas, na verdade, foi muita batalha das pessoas que fizeram o audiovisual do país ao longo do século XX e XXI por melhoria nas condições de trabalho, no financiamento público do Estado argentino. O cinema sul-americano não é como Hollywood, não precisamos de montanhas de dinheiro de investidores de Wall Street, o nosso cinema é barato e dá retorno aos governos que investiram nele, pois a cultura não ocorre no vácuo à parte da sociedade.
Contudo, sendo um típico latino reacionário que odeia sua própria terra, sua cultura, sua própria gente, enxergando como divino tudo que vem de Hollywood, Milei trabalha ativamente para destruir o que levou décadas de trabalho e luta para ser erguido.
O fim da cota de tela no país, a possibilidade de aumentar o tempo de exibição de um filme nacional que ia bem nas salas de cinema, foram medidas tomadas pela atual gestão que tem foco em destruir o mercado audiovisual argentino para entregar de bandeja aos seus comparsas de Hollywood. As empresas de streaming esfregam as mãos esperando a hora de pegarem suas fatias do que sobrar de um mercado e um setor em frangalhos graças a administração Milei.
O histórico cinema Gaumont, conhecido por ser um espaço para os filmes argentinos, agora aloca filmes internacionais como qualquer outra sala comercial de um shopping. O cinema hollywoodiano sempre esteve presente na Argentina, não pensem o contrário, mas o cinema nacional também conquistou seu espaço por meio de lutas durante décadas. A ideia da administração atual é destruir tudo isto e permitir que apenas o "audiovisual nacional" tocado por companhias privadas estrangeiras tenha espaço no país.
E não é por falta de diálogo, mesmo sabendo do ódio do Milei ao cinema argentino, os profissionais da área buscaram diálogo com a administração para manter as coisas funcionando segundo a Lei do Cinema, mas do outro lado da linha não houve resposta, até porque a resposta que eles possuem já foi dada diversas vezes: é destruição geral.
A verdade é que o mal que o Milei vem fazendo ao audiovisual argentino é imensurável, é algo que pode levar décadas para voltar ao estado antes de sua administração, isto dependendo de que nenhuma outra gestão faça o mesmo ou pior.
O cinema argentino, os seus profissionais, pedem socorro, a administração Milei chegou a um momento crucial do sucateamento que tem como objetivo claro a entrega de toda a indústria audiovisual da Argentina aos conglomerados gringos. E a motosserra do Milei continua a avançar na destruição de uma parte muito importante da Argentina. (No Perfil)
Costa Rica lança um canal de cinema nacional na plataforma espanhola Filmin
Durante o Festival de Cannes, muitos acordos foram fechados que beneficiam o audiovisual latino. Um deles foi a parceria entre Costa Rica e Espanha para o lançamento de um canal dedicado à cinematografia costarriquense em terras espanholas.
O objetivo dessa nova aliança é ampliar a visibilidade internacional do cinema realizado no país centro-americano, fortalecendo assim oportunidades de comercialização em mercados fortes para a indústria da Costa Rica.
O novo canal vai contar com uma seleção de 20 títulos da Costa Rica, incluindo clássicos que preservam o dito cinema de autor, uma marca da carreira da própria Filmin. (No LatamCinema)
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