Simplificando Cinema #101
Apresentação da Strima (Associação das Plataformas de Streaming) no Rio2C traz dados errôneos e desatualizados para tentar emplacar a narrativa de que a regulamentação não torna o mercado competitivo

Na última sexta-feira, 30 de maio, durante um painel na Rio2C, o diretor-executivo da Strima, Luizio Felipe Rocha, fez uma apresentação lamentável sobre a regulamentação do streaming.
Mostrando toda a sua desinformação sobre o tema, mundialmente, Luizio consegue ser patético o suficiente de se agarrar aos dados levantados por um estudo do CADE de 2023, que coleta informações ainda mais antigos sobre o mercado de streaming que, à época, ainda vivia uma transição das suas primeiras regulamentações aprovadas.
Citando uma lista de 10 países, que ainda contava com a China, Rocha cita que apenas 3 deles possuem regulamentação vigente, citando assim Alemanha, França e Canadá, em uma lista que também possui o Reino Unido, que já possui uma regulamentação em vigor há mais de um ano e a Coreia do Sul, que trava uma briga judicial de uns bons anos contra a Netflix e seu uso indevido de rede, atrapalhando o livre comércio e concorrência de empresas nacionais.
O ponto alto, entretanto, fica com os Estados Unidos. Apesar de encabeçar a lista até hoje como maior mercado de streaming do mundo, passa pela pior crise de desemprego no setor, chegando a marca de 12% de desempregados e sem muitas pretensões de que isso mude em qualquer futuro próximo.
Além disso, não podemos esquecer que a porção Ocidental do mundo, em termos geográficos, continua colecionando os prejuízos da greve dos roteiristas e dos atores, causada, por ironia do destino, pelos problemas da desregulação das plataformas e a falta de segurança de direitos dos trabalhadores e zero possibilidade de cobrança dos famosos royalties.
Luizio também demonstra que não estudou o tema suficiente para assumir tal posição (embora o Strima, associação dos conglomerados, quer mais que exista a desinformação mesmo, assim é mais simples manipular uma boa parcela de consumidores que entende ainda menos do tema). Ao citar as alíquotas cobradas pelos países regulados, erra feio a quota da França e a da Alemanha.
Enquanto a França cobra 5% direto para o seu fundo audiovisual, e não os 4.12% trazidos, a Alemanha possui dois tipos de cobrança diretas que vão de 1.8% a 2.2%, esta última porcentagem cravada pelo advogado durante o evento.
A diferença das quotas alemãs está sobre o custo do licenciamento e da co-produção com as plataformas, um valor decidido posteriormente pelo FFA (Filmförderungsanstalt), Fundo Nacional para o Cinema Alemão.
Este tributo deve ser pago sob as receitas líquidas das plataformas, uma cobrança ainda bem mais agressiva do que se quer fazer no Brasil e que está em voga em alguns outros que decidiram estabelecer a cobrança ainda na receita bruta.
A agressividade está no cumprimento da cota de tela, já que a Alemanha não decidiu porcentagem própria e utiliza a cota de 30% aprovada pela União Europeia. Isso significa que a participação da Alemanha em filmes e séries em co-produção com outros países de língua germânica, também entram para essa contribuição, o que faz com que a quota reduzida seja ainda bem mais significativa do que os 6% que o setor brasileiro gostaria de ter na Condecine, citado por Rocha em uma choradeira infinita que nem uma criança de 3 anos ao ter um doce negado faria.
Outro ponto importante para entendermos as verdadeiras intenções da Strima no mercado brasileiro é que nenhum dos países regulados garantem descontos absurdos de 70% da quota do tributo, algo que está em vias de aprovação no Brasil e que deixa quase tudo igual em um ambiente sem regulamentação. (No TelaViva)
Ministério da Cultura lança investimento de R$300 milhões em Recife
Na próxima segunda-feira, 9 de junho, o MinC lançará em Recife, no Cine PE - Festival Audiovisual, o edital de Arranjos Regionais. A inscrição será através do sistema Mapas Culturais, com início em 16 de junho até às 18h de 18 de agosto.
O programa investirá R$ 300 milhões em todo o país, sendo que 70% será dividido entre Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e os outros 30% desse valor ficarão com a Região Sul e os estados de Minas e Espírito Santo. Rio e São Paulo ficaram de fora porque como vanguarda do audiovisual nacional, graças aos nobres esforços da Embrafilme, cada estado já recebeu R$ 100 milhões de reais.
Nas palavras do Secretário Executivo do MinC, Márcio Tavares, "Esta é uma política de Estado que vai além do simples repasse de recursos. Sem descuidar dos grandes centros de produção, estamos construindo as bases para um audiovisual verdadeiramente nacional, que reflita a diversidade cultural do nosso país e garanta que cada região tenha condições de contar suas próprias histórias”. As histórias do Rio e de São Paulo pelo visto valem mais, já que sozinhos os dois levaram 2/3 do que outros 24 estados da federação mais o Distrito Federal. É muita democratização e diversidade em uma administração só!
Em mais uma ação no intuito de democratizar e diversificar o audiovisual brasileiro, as chamadas que estarão disponíveis exclusivamente a órgãos e entidades públicas culturais de estados e municípios, como secretarias, fundações, autarquias e empresas públicas, no caso dos municípios apenas poderão participar as capitais e as cidades que acessaram recursos ou co-investimentos dos Arranjos Regionais entre 2014 - 2018, se sua cidade não acessou entre esse período, infelizmente a diversificação e a democratização do audiovisual ainda não chegará até você.
Cada estado poderá captar até R$ 30 milhões de reais, mostrando como a diversidade do audiovisual fora do Rio e de São Paulo valem quase 304% a menos.
Os recursos destinados pelo FSA neste edital devem ser exclusivamente utilizados na produção de obras audiovisuais como longas, obras seriadas e telefilmes ou comercialização de longas cinematográficos. Os editais que contarem com os recursos do FSA devem destinar até 50% dos recursos a projetos coordenados por mulheres cis ou pessoas trans na função de direção, roteiro ou produção; 25% para empresas com produtoras com pessoas negras, indígenas ou PCDs no seu quadro de sócios; 15% deve ser destinado a empresas com maioria de pessoas negras.
O edital dos Arranjos Regionais poderá ser acessado após seu lançamento neste link do Ministério da Cultura. (No TelaViva)
Setor audiovisual de João Pessoa cobra a implementação da Empresa Pública de Cinema
Já não é uma novidade que o setor audiovisual de João Pessoa, capital da Paraíba, vem tentando implementar a EmCineJP, uma empresa pública para o cinema local, com um Fundo Municipal de Cultura para diminuir a dependência do estado aos órgãos federais de cultura que pouco têm dado atenção a Região Nordeste.
A lei, que cria o Fundo e a empresa pública, já está sancionada desde 2024, mas até o momento nenhum movimento foi feito em prol da sua execução. Dessa forma, o setor audiovisual da Paraíba chama atenção para o retrocesso cultural e econômico da cidade, levando em consideração que o investimento implicaria no retorno rápido de impostos.
Segundo apuração da matéria no ParaibaOn, a cada R$1 milhão investido em João Pessoa, são gerados 80 empregos diretos e outros 100 indiretos.
Cinema Independente
Antes de começar com as dicas de filmes deste sábado, gostaria de lembrar que no último sábado atingimos a marca de 100 edições. Uma parceria maravilhosa com a Marina Rodrigues e eu só tenho a agradecer por toda a informação, aprendizado e conscientização sobre um assunto que vem preenchendo a minha vida cada vez mais. Obrigado Marina pela confiança e estamos juntos nessa. Também quero agradecer a todos que colaboram com o Simplificando Cinema e que confiam na gente.
Também quero compartilhar a todes que o CineLivre LA vai estar fazendo a cobertura do “Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba”, que está em sua 14ª edição e que acontece em diversos endereços no centro de Curitiba de 11 a 19 de junho e vamos estar compartilhando no perfil do CineLivre LA no Twitter, “X”, tudo que vai estar rolando no Festival, com ênfase no Cinema Latino-Americano.
O Olhar de Cinema é um dos principais festivais do país com uma característica forte no cinema independente desde sua primeira edição em 2012. É um festival que admiro justamente por acolher um cinema contra hegemônico que sempre causa experiências cinematográficas muito mais imersivas e impactantes, por dialogar de forma mais explícita com a realidade, de romper limites, sem ficar preso a narrativas clássicas. São filmes mais ousados e desafiadores e que muitas vezes nos representam em imagem, protagonismo, valores e ideologias.
O que seria cinema independente? Em uma discussão mais acadêmica, pode ter uma resposta mais complexa, indefinida, mas de forma pessoal, minha resposta está dentro do senso comum e que talvez já tenha respondido no parágrafo anterior, mas é comum associar o cinema independente como antagonista do cinema industrial, do mainstream.
O cinema independente é um cinema libertário, onde o realizador tem a oportunidade de ousar, experimentar, inventar, inovar, às vezes até por uma questão de baixo orçamento. Também é marcante a linguagem utilizada, para abordar temáticas mais culturais, de críticas sociais e das camadas da sociedade mais fragilizadas. É um cinema que sofre com a falta de orçamento, de apoio, reconhecimento e preconceito, caindo na velha e idiota comparação com o cinema hollywoodiano.
Um dos grandes problemas para o cinema independente é a distribuição, pois dificilmente chega nas salas de cinema, inclusive nas salas ditas alternativas. E os festivais se tornam a grande oportunidade de apreciar esse cinema. E o Olhar de Cinema é um desses Festivais em destaque.
Na sua primeira edição em 2012, contou com muitos filmes do mundo inteiro, mas com foco no cinema latino-americano, principalmente o nacional e o paranaense. O primeiro filme nacional longa-metragem a ser premiado como melhor longa nacional foi o filme “Hiper Mulheres”, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, de 2011. Um documentário sobre o povo Kuikuro, no Mato Grosso, representando o maior ritual feminino do Alto Xingu. É uma imersão na intimidade de um povo que sobrevive e que luta para manter sua cultura viva e seu território preservado. O filme está disponível no Itaú Cultural Play
Na Competitiva Internacional do mesmo ano o público escolhia o emocionante longa-metragem argentino, “Las Acacias”, de Pablo Giorgelli, de 2011. O filme de Giorgelli, premiado na 64ª edição do Festival de Cannes com o Camera D’Or, representa uma nova fase do cinema Argentino ao lado de Lucrecia Martel, Pablo Trapero e demais realizadores.
Las Acacias conta com uma narrativa naturalista construindo um road movie humano, sobre vidas solitárias que se encontram estabelecendo um afeto improvável, uma jornada que desperta sentimentos humanos e transformadores. Disponível no Canal do YouTube do Eesta Fundaki
O Festival é atualmente dividido em diversos olhares, além da competitiva Nacional e Internacional de longas e curtas: Mirada Paranaense, Olhar Retrospectivo, Foco, Novos Olhares, Exibições Especiais, Olhares Clássicos e Pequenos Olhares para o público infanto-juvenil.
Em 2019, "Espero tua (re)volta", de Eliza Capai, era consagrado como o Melhor Filme da Competitiva Nacional do 8º Olhar de Cinema. Representa os movimentos estudantis secundaristas de São Paulo e toda a sua diversidade e o quanto vem se renovando e transgredindo a moral e os bons costumes da sociedade conservadora. Tem como contexto os protestos de 2013 e o impeachment de Dilma Rousseff, até a eleição de Bolsonaro. A utopia continua viva nos jovens. Disponível no Canal Subvercine
Na 12ª edição, em 2023, o longa-metragem “Anhell69”, de Theo Montoya, 2022, levou o prêmio de Melhor Filme Internacional. O filme representa uma juventude sem perspectivas, herdeiros de uma Cali violenta marcada pela guerra do narcotráfico, que deixou muitos órfãos de pai. Mostra a comunidade LGBTQIAPN+ bastante fragilizada e por meio de metáforas adentra em um mundo soturno e sem esperança. Um filme bastante audacioso comprovando a força do cinema independente. O Filme está disponível na FILMICCA.
E no ano passado outro grande filme independente latino-americano foi premiado no Olhar de Cinema como Melhor Filme Internacional, o longa-metragem da República Dominicana, “Pepe”, Nelson Carlos De Los Santos Arias, 2024. Pepe é uma das experiências cinematográficas mais raras e instigantes nos últimos anos na cinematografia latino-americana. A história nada convencional de um hipopótamo que pertenceu ao traficante Pablo Escobar.
O mais inusitado é a voz off que seria o espírito de um hipopótamo contando sua própria experiência de ser levado da África para a Colômbia e servir de animal de estimação de um traficante ("pablito dos patas"). Uma série de temas que o filme aborda, desde a selvageria cometida pelo colonialismo como também a questão do medo do povo colombiano diante de tanta violência provocada pelo narcotráfico. Um filme desafiador que foge do convencional e se liberta. O cinema pode ser uma janela de possibilidades, mas com sobriedade. Disponível na Mubi.
A edição de 2025 promete com mais de 90 filmes de diversas nacionalidades, muitos filmes inéditos, com uma homenagem à Agnès Varda, exibindo 10 filmes da realizadora francesa, além de clássicos do cinema latino-americano e filmes que se destacaram mais recentemente.
Essas foram algumas dicas de filmes que se destacaram no Olhar de Cinema. Com certeza não daríamos conta aqui de um histórico do Festival, mas é importante destacar a relevância do O Olhar de Cinema. Acompanhe-nos no “X” no perfil do CineLivre LA para mais informações da 14ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Bom filme a todes!!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Disney+ passa a oferecer sinal da CazéTV e amplia a mudança de formato do streaming para a TV 3.0
Na última quarta-feira, 4 de junho, a Disney informou que fechou uma parceria com o canal do influenciador digital Casimiro Miguel, a CazéTV.
A partir de agora, todos os assinantes do Disney+ terão acesso às transmissões já gratuitas presentes no canal da CazéTV no YouTube sem custo adicional. O serviço já conta com a transmissão de todo conteúdo da emissora ESPN, desde que você esteja disposto a pagar pelo plano mais caro que custa mais de R$ 60 mensais, já que os planos mais baratos, o padrão com e sem anúncios, só oferece dois canais que costumam não passar os principais jogos, mudança que ocorreu após o fim do Star+ que só tinha um único plano e oferecia todas as transmissões da ESPN.
A adição da CazéTV traz de volta as plataformas da Disney competições que outrora a grande empresa estadunidense já teve em sua grade de transmissão na TV fechada e no streaming como a Bundesliga, Liga Europa, Ligue 1, além das transmissões esportivas de outras modalidades. O destaque nesta adição fica para a Copa do Mundo de Clubes da Fifa que acontecerá entre 15 de junho e 13 de julho nos EUA e terá transmissão na CazeTV.
O engraçado dessa afirmação da Disney é que, ao mesmo tempo, que a empresa se esforça para reforçar seu leque de TV ao vivo dentro do streaming, diz ao criador da série Andor, mais conhecida como o melhor material já feito com Star Wars, que o "streaming está morto" Se o streaming está morto como a Disney afirmou, então por que tanto trabalho para trazer mais opções para sua plataforma de streaming? Será que veremos esse modelo de negócios morrer e se transformar em outra coisa? Um novo tipo de TV, quem sabe? Bom, ficamos no aguardo, talvez isso ainda demore muito. (No TelaViva)
Governo argentino acaba com imposto para filmes estrangeiros e atualiza etapa para entregar mercado interno para conglomerados hollywoodianos
Em mais um capítulo do entreguismo do ultraliberal Javier Milei e sua casta política, o INCAA (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais) publicou nas redes sociais o anúncio que o imposto exigido para que filmes estrangeiros pudessem ser exibidos nos cinemas argentinos está, a partir de agora, suspenso.
Segundo o órgão, serão economizados quase 70 milhões de pesos com o fim de mais uma “burocracia estatal”. No entanto, o fim desta arrecadação também significa um impacto direto nas contas públicas do país, uma vez que a cobrança do tributo era vital para este setor econômico e retornava para a sociedade em forma de novos empregos e, como não, mais impostos.
Agora, sem barreiras evidentes, conglomerados hollywoodianos podem exportar suas obras a custo zero e inundar quase 100% das salas de cinema do país, já que a cota de tela também já foi suspensa pelo mesmo governo.
Com a facilidade encontrada, os Estados Unidos também encontram mais uma forma de sobrevivência da sua hegemonia cultural frente ao mercado chinês, cada vez mais fechado para exibição e sobrevivência de blockbusters que só sobrevivem com público por lobby e pressão infinita em mercados governados por políticos pouco soberanos.
Toda semana me dá vontade de chorar vendo as notícias sobre a argentina
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