Simplificando Cinema #102
"Homem com H" registra público de 600 mil pessoas e mesmo assim perde mais salas do que títulos estrangeiros no circuito comercial.
A cinebiografia "Homem com H" que conta a história de um dos maiores nomes da música brasileira, Ney Matogrosso, estrelada pelo brilhante Jesuíta Barbosa, ultrapassou os 600 mil espectadores e os R$ 13 milhões em renda. Números fantásticos perante todo o boicote e descaso que o cinema nacional enfrenta desde o golpe contra a Dilma em 2016, com uma cota de tela que foi esfacelada que só voltou no ano passado (e ainda assim com muitos pontos abertos para críticas).
Contudo, esses números poderiam ser bem maiores se o lobby hollywoodiano não atuasse livre por aqui. No fim de maio o longa obteve uma queda de 46% da bilheteria em contraponto aos 74% do título hollywoodiano de "Karatê Kids: Lendas", no entanto, o filme brasileiro perdeu 60% de salas, enquanto o estadunidense apenas 20%. Gostaríamos que os liberais nos explicassem que tipo de oferta e demanda é essa.
Se nem um artista como o Ney Matogrosso, um dos maiores nomes da música brasileira, com projeção mundial, tem espaço nas telonas, não é difícil entender o porquê tantas pessoas no país desprezam os nomes de seus maiores artistas para endeusar qualquer um que cante em inglês, faz parte do projeto político de colonização cultural dos EUA apagar o que é local das partes do mundo onde eles colocam seus tentáculos. (No TelaViva)
MinC se compromete com aprovação da Lei do Streaming ainda em 2025
Na última quinta-feira, 12 de junho, durante uma reunião com o Movimento VOD12 (que envolve entidades, associações e profissionais do audiovisual em prol da alíquota de 12% de Condecine), o Ministério da Cultura se comprometeu a conseguir a aprovação da regulamentação do streaming ainda em 2015.
As principais defesas do MinC para uma regulação mais justa com as plataformas é a garantia da cota de tela em 10% dos catálogos, alíquota de 6% do faturamento bruto anual no Brasil e sem nenhum desconto, investimento direto em pré-produção, pré-licenciamento, licenciamento e produção de conteúdo nacional, principalmente a independente.
Além disso, o MinC também quer prezar pela transparência de dados, ou seja, a exigência de que as plataformas exponha seus números reais e trabalhe junto aos órgãos nacionais para um audiovisual brasileiro mais saudável nas telas.
Ainda segundo a pasta, o diálogo interministerial vem ocorrendo, o que fortalece a possibilidade da aprovação apesar dos esforços do lobby dos conglomerados.
Mesmo com promessas concretas, ainda não é possível cravar que a regulamentação aprovada irá prever todo o desejado. (No TelaViva)
Cinema é Cinema (Dicas de filmes)
Continuando nossas dicas com base em filmes premiados pelo Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, é importante destacar essa celebração ao cinema independente que falamos na semana passada e hoje salientando a questão do gênero. O cinema tem gênero?
Na minha humilde opinião, sim, o cinema tem gênero por uma questão de mercado hegemônico impulsionado pela indústria hollywoodiana. Mas se tratando de cinema, infelizmente o gênero às vezes acaba evitando a possibilidade de assistir um bom filme por algum preconceito ou capricho de não gostar de algum gênero, ou outro, ou pela própria questão do rótulo que acaba afastando o público.
Cinema é cinema e o público tem que ser desafiado a sair da zona de conforto e se propor às novas experiências e narrativas cinematográficas. Os cinemas latino-americanos são cinemas difíceis de rotular, ou seja, não tem gênero, é cinema.
A curadoria do Olhar de Cinema nos leva a essa conclusão. O Festival nos convida a novas experiências cinematográficas, incômodas, como o documentário espanhol “Tardes de Soledad”, do espanhol Albert Serra, 2024, que acompanha o famoso o toureiro peruano Andrés Roca Rey, nas Praças de Touros pela Espanha, representando o espetáculo da tortura. Um filme impactante. E, por outro lado, a experiência fascinante com o curta-metragem, “Plantar nas Estrelas” de Geraldo Sarno, 1978, que foi para Moçambique registrar o povo moçambicano após a independência do país, se libertando de Portugal. Dentro da Mostra Olhares Clássicos. Filme disponível no YouTube no canal CTAv
Estamos no terceiro dia de Festival com 92 filmes na programação, 92 experiências diferentes.
Em 2013, na segunda edição do Olhar de Cinema, o público escolhe como Melhor Filme na Competitiva Olhares Brasil de Longa-Metragem, “Kátia”, de Karla Holanda, 2012. Documentário da Kátia Nogueira Tapety, primeira mulher trans eleita para um cargo político no Brasil, foi vice-prefeita e vereadora da cidade de Colônia do Piauí, no Sertão do Piauí, distante 388 quilômetros ao sul de Teresina. O filme está disponível no YouTube
Em 2014, “Branco Sai Preto Fica" de Adirley Queiróz, leva o prêmio do Júri. Uma experiência única, fascinante, com imagens documentais e ficção, representando os bailes black na Ceilândia e a violência praticada pela polícia que interfere na vida de duas pessoas. O filme também flerta com o gênero sci-fi, ou seja, é um filme difícil de se conceituar. Esse é o legítimo cinema latino-americano. Filme disponível no Itaú Cultural Play.
"Apuntes Sobre la Tortura y Otras Formas de Diálogo", de Patricio Guzmán, 1968, uma preciosidade do cinema latino-americano, que ficou inacessível por muitos anos, trazendo a tortura como uma propaganda do horror, banalizando a vida, passando impunemente toda a barbárie, torturas e assassinatos promovidos pela ditadura militar chilena. Um dos primeiros filmes de Guzmán. Disponível no YouTube no Canal Cinemateca Play
Essas foram algumas dicas dentro do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba e sua trajetória. É um Festival que nos faz pensar no cinema como arte, como uma experiência única, sem gênero, simplesmente, cinema.
Bom filme a todes!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Warner Bros toma decisão de se dividir em duas empresas
Na última segunda-feira, 9 de junho, a Warner Bros Discovery comunicou que estaria de dividindo em duas empresas: a Streaming & Studios ficará no streaming e na criação de "conteúdo", tendo em seu leque empresas como a Warner Bros Television, WB Motion Picture, HBO Max e HBO. Já a segunda parte, a Global Network ficará com a parte da televisão tradicional, contando com marcas como a CNN, TNT Sports (nos Estados Unidos), Discovery, canais europeus e o streaming Discovery+. O atual CEO da Warner Bros Discovery (WBD), David Zaslav, comandará a Streaming & Studios, enquanto o CFO da WBD, Gunnar Wiendenfels, comandará a Global Network.
Mesmo após a fusão megalomaníaca entre os dois conglomerados Warner Bros e Discovery, a empresa fruto dessa união tem dívidas que chegam aos 38 bilhões de dólares. Enquanto a Warner está perdida em vários setores de seus negócios como o streaming, distribuição de filmes, projetos cinematográficos que não deram os retornos que os executivos pensavam, o setor de jogos com flops gigantes, agora é a hora de tentar correr atrás do prejuízo. Quando as empresas decidiram se separar em duas e o streaming ficou fora dos planos da TV, evidenciou o que é dito há tempos nesta newsletter: o modelo de negócios do streaming é deficitário e não consegue se sustentar com o valor das assinaturas, não à toa a Warner já aderiu aos planos com publicidade na plataforma HBO Max. (No TaviLatam)
INCAA de Milei comemora redução de empregos e suposta eficiência sem citar para onde estão indo os impostos
Em vídeo divulgado nas plataformas oficiais do INCAA nesta sexta-feira, 13 de junho, o atual presidente do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais da Argentina, Carlos Pirovano, falou com franqueza sobre a redução de postos de trabalho e a liquidação para o setor privado de 4 dos 8 edifícios que o órgão possuía.
Sem esconder a grande felicidade de anunciar que deixou 65% de pessoas sem emprego, Pirovano se escondeu nas mentiras torpes do ultraliberalismo para falar sobre eficiência, já que agora, contando com apenas 260 funcionários, apesar de ter chegado a 760 empregos diretos.
Além do aumento do desemprego, Pirovano também divulgou que o INCAA chegou a realizar uma economia de 70% dos gastos anuais, mas não consegue explicar para onde foi toda essa economia, uma vez que o Instituto não fomenta mais cinema nacional e fechou 2024 sem nenhum projeto aprovado.
Vale lembrar que os 10% de imposto cobrado sob os ingressos vendidos no país continua vigente, o que obriga que salas de cinema ainda continuem contribuindo para sabe lá o que, e aumente consideravelmente o valor dos ingressos em uma economia com inflação nas alturas. (Nas redes do INCAA)
Costa Rica Media Market é a nova aposta da Film Commission do país
A Film Commission e a Secretaria de Comércio Exterior se uniram para lançar nesta última semana o Costa Rica Media Market (CRMM).
Com objetivo de colocar o cinema como porta de entrada ao turismo no país centro-americano, os órgãos querem atrair mais produções internacionais e expandir a distribuição do conteúdo local para os principais mercados de audiovisual ao redor do mundo.
A primeira edição já tem data para acontecer: nos dias 24 e 25 de junho, profissionais da indústria poderão entender ainda mais como realizar negócios e assinar contratos de distribuição internacional.
Lembrando que durante a última edição do Festival de Cannes, a Costa Rica também conseguiu um grande acordo com a Espanha para a difusão do conteúdo costarriquense em um dos mercados mais importantes para o cinema latino. (No ElMundo)