Simplificando Cinema #27
Cinema brasileiro sofre dura derrota com o PL da Cota de Tela | Argentina abre mais uma sala pública de cinema | Escolhido da Colômbia para o Oscar 2024 foi feito com recursos públicos
Uma derrota disfarçada de imprevisto. É assim que o setor audiovisual interpreta o duro golpe dado ao PL 3.696/2023, do senador Randolfe Rodrigues, e que vinha uma proposta realmente intensa e abrangente para a retomada da cota de tela nas salas de cinema, com um prazo de vigência até 2043, ou seja, mais 20 anos.
Com incisos interessantes para o cinema brasileiro, como a exclusão da cobrança por dias e a inclusão de sessões a partir das 18h (entenda mais aqui), o PL foi debatido a exaustão com lideranças e entidades do audiovisual dos quatro cantos do país, realizando uma verdadeira vigília sobre a pauta indo quase semanalmente a Brasília participar de reuniões, discussões e demais encontros com o governo para tentar aprovar uma política pública urgente para o país.
Para além do próprio golpe dado pela mais alta cadeia exibidora do país (os famosos multiplex), a ideia de falência das salas de cinema por conta de uma cota de tela foi comprada por parlamentares presentes na Comissão de Educação.
Um dia antes do PL ser apreciado pela Comissão de Educação, o senador Eduardo Gomes (PL-TO) propôs duas emendas a questão das salas de cinema: a primeira, falava sobre a cota de tela não poder ser renovada já que havia vencido, sendo necessária sua apreciação em uma nova legislação, além de corroborar com a visão limitada e mentirosa dos multiplex sobre a possível falência das salas de cinema em um período de suposta recuperação pós-pandemia, sendo que os números recentes atestam para o retorno de um número próximo aos praticados no pré-pandemia.
A rápida aceitação de uma emenda que não vigorou nem mesmo 24h no sistema online do Senado Federal, deu o tom ao setor sobre o que esperar do futuro sobre essa discussão, sendo pontuado por muitos profissionais como um perfeito desânimo e um sentimento de derrota sem ainda entender por onde recomeçar.
Durante a sessão da Comissão de Educação, mais desinformação em prol dos multiplex ––que utilizam o pequeno exibidor de “token” para os menos informados sobre o tema. Desta vez, a fala da senadora Teresa Leitão (PT-PE) foi amplamente mal recebida pelo setor. Ao se posicionar contra as cotas, Leitão expressou entender o temor dos exibidores a ter suas salas de cinema fechadas ao ir prestigiar o novo filme do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho em Brasília dias antes.
A citação ao nome do Kleber, para defender uma posição contrária às cotas, foi vista com pesar até mesmo pelo próprio cineasta. Abertamente crítico ao tema da ausência da reserva de mercado das obras brasileiras desde o golpe dado pelo governo Temer para a exibição de Vingadores em mais de 90% das salas do país em 2019, o diretor usou as redes sociais para divulgar uma carta pública endereçada à senadora.
O golpe dado pelos multiplex, aliado ao baixo entendimento da importância e valorização das cotas de tela pelos próprios parlamentares escancaram uma discussão que já deveria ter sido sanada por um país que esteve presente no ranking dos 10 maiores mercados cinematográficos do mundo.
Não existe falência de salas de cinema comprovadas por conta da cota de tela, muito menos como resultado possível deste PL, uma vez que o senador Randolfe deixou claro a apuração anual do parque exibidor para entender a capacidade de cada sala de cinema cumprir com as cotas.
Não existia, dentro do PL, nenhuma imposição de dias, porcentagem ou qualquer métrica possível que gerasse tamanha reação negativa e errada por parte dos parlamentares. Existia, sim, a necessidade de entender a capacidade do cinema brasileiro anualmente para compreender como esses lançamentos poderiam vigorar nas salas de cinema, justamente para evitar qualquer impacto negativo advindo disso.
Cota de tela não é favor, é direito e é economia de mercado em um país que já foi capaz de abrir 700 mil postos de trabalho na indústria audiovisual, muitos deles graças a última cota que esteve em vigor.
Cota de tela para TV a cabo recebe parecer positivo na Comissão de Direitos Digitais
Mesmo com o sentimento de derrota bastante amargo na boca, o setor audiovisual pôde comemorar com um pouco de alívio a aprovação do que restou do PL 3.696/2023, do senador Randolfe Rodrigues, que prorroga a cota de tela da TV a cabo por mais 15 anos, nesta última quarta-feira (30/08)
No Projeto de Lei original, a prorrogação tinha uma validade de 20 anos, porém, ao chegar na Comissão de Direitos Digitais, o senador Eduardo Gomes (PL-TO) baixou para 15 anos, o que ainda pode ser considerada uma vitória, porém com um tempo de vigência pouco producente para o que é necessário ser retomado no ambiente da TV por assinatura.
Sem aumentar a porcentagem destinada a reserva das obras brasileiras (fixada em 3% da programação desde 2011), a Comissão ou PL não fazem maiores ressalvas sobre a necessidade do retorno da fiscalização do cumprimento da cota, algo que vem sendo encarado pelas programadores, sobretudo estrangeiras, como uma espécie de ponto facultativo, o que dificulta também a sondagem da performance dos títulos brasileiros nos canais a cabo, que vivem um grande monopólio de canais Warner Bros Discovery.
O PL deve ir a sessão plenária ainda antes do dia 12 de setembro, data limite para o vencimento das cotas atuais. (No TelaViva)
Novo espaço de cinema público em Córdoba é lançado pelo INCAA
Na última terça-feira (26/08), o INCAA (Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais) inaugurou mais um cinema público na Argentina. A cidade escolhida mais uma vez foi Córdoba, considerada a segunda maior em importância para o mercado cinematográfico argentino.
A inauguração contou com a presença do presidente do INCAA, Nicolás Battle, além da exibição do curta-metragem “Bosquecito”, de Paulina Muratore, e o longa-metragem “Destino Pasional”, de Juan Romero.
Mesmo vivendo um tempo de adversidade com uma eleição presidencial cruzando a esquina, a Argentina tenta manter cada vez mais a memória e a importância da cultura acessível para todos. (No INCAA)
Curta Curtas!! Dicas de Cinema de Curta-Metragem
Quantos curtas-metragens você já assistiu? Dois ou três? Uma dúzia e meia? Bem provável que sim, em algum momento de sua vida, no cinema, TV e streaming.
O fato é que o formato do curta-metragem, a rigor, inaugurou o cinema, está presente desde a primeira exibição e seu desenvolvimento evoluiu com esta arte e originou uma linguagem própria e dinâmica, que deu início a carreira de muitos grandes cineastas que conhecemos.
O curta-metragem abre mil possibilidades, é uma forma de se libertar, de criar, experimentar, quebrar com cânones, ou seja, quebrar com qualquer dogmatismo.
Ao longo da história o formato foi ganhando protagonismo e nos anos de 1950 surgem os primeiros Festivais exclusivos para o curta-metragem. Hoje, além de muitos festivais exclusivos de curtas que temos no país e no mundo, é muito difícil encontrar qualquer Festival de Cinema que não tenha a competição de curta-metragem em sua programação. Atualmente, os festivais são a principal vitrine dos curtas. Também vem ganhando espaço no streaming. No Brasil volta e meia é destaque na TV aberta.
Na América Latina já tivemos leis específicas para impulsionar a produção de curtas nos anos 1970, na Colômbia com “A Ley do Sobreprecio” entre 1972 e 1978, e no Brasil tivemos a “Lei do Curta” em 1975, que seguia o mesmo formato da lei colombiana, que em suma obrigava o cinema a passar um curta-metragem nacional antes de um longa-metragem. Houve uma adesão dos cinemas em alguns períodos, principalmente no final dos anos 1980, mas até hoje não foi regulamentada e divide opiniões. De fato é necessária uma ampla discussão e encontrar formas de exibição de curtas-metragens para dar vazão ao grande número de produções. Temos um histórico de excelência, de produções que representam a América Latina em grandes festivais e precisam de um espaço para a exibição, tanto no cinema, TV e streaming.
Algumas dicas de curtas e onde assistir:
Até o dia 03/09 temos o 34º Festival Internacional de Curtas de São Paulo, o Curta Kinoforum, em formato híbrido, dispõe gratuitamente, filmes nas plataformas do “Porta Curtas”, Itaú Cultural Play, SPCine Play e Sesc Digital. Diversos filmes que representam o país em grandes festivais e filmes que mostram a nossa diversidade cultural. Imperdível! Corre lá!
Temos também o “Retina Latina”, o streaming de Cinema Latino-Americano 100% gratuito, com um acervo excelente de curtas da Colômbia, Equador, Uruguai, Bolívia, México e Peru.
O curta-metragem nos anos de 1960 e 70 foi uma ferramenta excelente para a realização de cinema político que representava muito bem o momento caótico na América Latina, de revoluções que mudaram o destino de países e inspiraram a produção de audiovisual.
Um exemplo são as obras do cubano Santiago Álvarez, “Now”, de 1965, “79 Primaveras”, de 1969 e “LBJ”, de 1968. Essas obras narram bem um determinado momento da nossa história, desde uma nova conjuntura sócio-política nas Américas, até a horrenda e desnecessária Guerra do Vietnã. Disponíveis no Youtube.
“Blablabla”, de Andrea Tonacci, 1968, mostra a dinâmica política e alienação na ditadura militar brasileira (No Vimeo).
“Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, 1989 é um clássico que mostra um país Pacificado, um país do diálogo, pós-ditadura militar, da recente constituição de 1988, mas veja onde vai parar um simples tomate. (Globoplay)
Para os assinantes do Globoplay temos os imperdíveis, “Sideral”, de Carlos Segundo (2021) e “Inabitável”, de Enock Carvalho e Matheus Farias.
Quem assina a MUBI também conta com um excelente acervo, como o chileno “Huesos” (2021), de Cristobal Leon e Joquin Cociña, que trata de uma herança política maldita. “Desvirtude”, de Gautier Lee (2021), premiado no Festival de Gramado, mostra as consequências do racismo na vida de uma jovem negra, num ambiente universitário.
Na Fílmica também temos excelentes curtas internacionais. A dica é o imperdível e premiado “Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci (2021). O curta trata da conexão entre o ser humano e o meio ambiente, com tensão e suspense.
Aqui estão algumas dicas com foco na produção brasileira que é gigante e diversa. Podemos encontrar muitas obras latino-americanas disponíveis no Youtube e no Vimeo. Se alguém quiser regulamentar a Lei do Curta em casa é uma dica aproveitar para assistir um curta antes de um longa.
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Colômbia escolhe título financiado pelo governo para tentar vaga no Oscar 2024
Os países já começaram a escolher os títulos que irão representar a federação na próxima edição do Oscar, e com a Colômbia não foi diferente.
O escolhido pela Academia Colombiana de Cinema foi o longa-metragem de drama “Un Varón”. Dirigido por Fabián Hernández, o filme conta a história de Carlos, um jovem que vive em um lar de jovens periféricos no centro da capital Bogotá e precisa confrontar o crime que toma conta de certas regiões da cidade.
Fruto de uma coprodução entre Colômbia, França, Holanda e Alemanha, o filme recebeu incentivo principal do Fundo de Desenvolvimento Cinematográfico (FDC) da Colômbia, um dos principais em atividade federal.
Além disso, e graças à sua coprodução, também teve a chance de unir recursos disponibilizados pelo fundo francês de produção cinematográfica (CNC) e o fundo mundial de apoio ao cinema do Festival de Berlim. (Na Academia Colombiana de Cine)
Terceira edição do Mercado Entre Fronteras se inicia no Paraguai
Na última sexta-feira (31/08), a terceira edição do evento de mercado Entre Fronteras começou no Manzana de la Rivera, em Assunção, capital do Paraguai.
Idealizado para ser um evento de mercado para a região dos países do Mercosul, o Entre Fronteras tem participação dos institutos de audiovisual do Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai, sendo uma oportunidade para produtores, plataformas, distribuidoras, investidores e demais agentes de mercado conhecerem um pouco mais do que vem sendo realizado.
Com acesso gratuito ao público geral, a edição de 2023 vai do dia 31 de agosto até o dia 02 de setembro e conta com pitchings de diversas obras audiovisuais, além de palestras e outras atividades voltadas para o mercado cinematográfico de cinema no Mercosul (No INAP)
Uruguai disponibiliza informe dos últimos 10 anos do país no mercado audiovisual
A recém inaugurada ACAU (Agencia del Cine y el Audiovisual del Uruguay), antigamente conhecida como ICAU (Instituto del Cine y el Audiovisual del Uruguay), apresentou o primeiro informe dos últimos dez anos de incentivos públicos liberados pelos governos do país para a atividade cinematográfica.
Entre os números, a surpresa fica por conta da quantidade de obras lançadas no país e das que receberam apoios dos fundos regionais e federativos regidos pela ACAU: 68% das obras lançadas nos últimos dez anos tiveram suas origens de financiamento no fomento público.
Deste número, 93% dos fundos foram para projetos de produção e apenas 7% para desenvolvimento, além de 61% das produtoras audiovisuais do país já terem sido beneficiadas pelos apoios públicos ao audiovisual.
Além dos números expressivos em produção e apoios, o informe da ACAU também disponibiliza para consulta suas taxas de reembolso e outros investimentos públicos durante a década analisada. Os dados completos podem ser acessados aqui.
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