Simplificando Cinema #70
Audiovisual catarinense denuncia censura no Edital Prêmio Catarinense de Cinema | Netflix anuncia novas obras argentinas e faz suposto aceno ao governo Milei | Uruguai aprova nova Lei da Comunicação
O audiovisual catarinense está passando pelo crivo ideológico de políticos extremistas. O Fórum Setorial do Audiovisual de Santa Catarina denunciou publicamente a censura e a arbitrariedade do Edital Prêmio Catarinense de Cinema 2024.
Entre os itens mais graves, o Fórum destaca que toda a decisão da Comissão de Organização e Acompanhamento agora precisará passar por uma análise da Fundação Catarinense de Cultura, que entre outros, retiraram a vedação de cunho religioso para os projetos.
Não se precisa falar muito mais para entender que esta mudança afetou diretamente projetos da comunidade LGBTQIA+ e demais projetos realizados por mulheres, negros, comunidades tradicionais, etc.
Além disso, os novos artigos trazem uma nula noção sobre o que é o cineclube, exigindo currículo e tempo de carreira dos coletivos que produzem estes projetos públicos e comunitários. O Fórum frisa bem que a atividade não é mercadológica, mas sim educativa e de princípio popular.
A carta completa assinada pelas principais entidades do audiovisual catarinense você pode conferir aqui.
Netflix promove evento para anunciar novas produções argentinas enquanto o governo derrete o prestígio do cinema
No início desta semana, a Netflix promoveu o evento “Hecho en Argentina” para anunciar seus novos projetos no país, em um timing difícil de engolir. Na ocasião foram anunciadas mais de 20 novas produções, da qual o vice-presidente de conteúdos para Latam frisou que “seguiremos apostando na Argentina e não vamos parar”.
Acontece que não é nenhuma novidade que a Netflix já produz conteúdo argentino há muitos anos, mas manteve seus projetos em um número bastante irrisório para uma nação que é reconhecida mundialmente pela qualidade do seu audiovisual.
O anúncio vem junto a uma semana turbulenta para o setor no país vizinho, já que além da possível monopolização da Netflix e outras gigantes do streaming, o governo festejou –– a base de mentiras –– cortes no INCAA e foi a público exibir meias-verdades sobre os filmes argentinos e suas bilheterias.
Sem saídas claras para os próximos anos, o diagnóstico mais provável é que a Argentina se torne um celeiro de produção tal qual o Brasil experienciou anos atrás, com nulos direitos aos trabalhadores e empresas locais. (no TaviLatam)
Streamings Nacionais Gratuitos
Hoje vamos dar algumas dicas de filmes que estão disponíveis nos streamings gratuitos.
Foi na pandemia que vimos os streamings ganharem muita importância , principalmente nos festivais. Descobrimos que o país tem muitos festivais de cinema. Nesse momento o streaming propiciou ao realizador de filmes, que o público tivesse mais contato com sua obra. Tivemos mais acesso a filmes inéditos e isso foi maravilhoso.
Pós pandemia os streamings continuaram com muita importância, principalmente os gratuitos, que em sua maioria tem em seu catálogo, filmes nacionais, sendo uma janela de exibição, principalmente da nossa produção independente, mas sabemos que ainda é muito pouco.
Pelo seu acervo, vamos dar destaque, ao mais recente deles, o streaming da Cinemateca Brasileira, que vem com o apoio do projeto Nitratos que restaurou e digitalizou milhares de filmes. A Cinemateca Brasileira tem o maior acervo audiovisual da América do Sul. Com mais de dois mil filmes, encontramos registros de diversas partes do país. A disposição boa parte da Cinematografia de Glauber Rocha.
Nosso destaque é um filme que não canso de indicar, um filmaço, um dos primeiros filmes de ficção feminista, "Os Homens Que Eu Tive", de Teresa Trautman, 1973. O filme foi interditado pela ditadura militar por colocar em risco a moral e os bons costumes. Site do acervo da Cinemateca Brasileira
Outro excelente streaming que se tornou gratuito durante a pandemia é o SPcine Play da prefeitura de São Paulo. Com um acervo mais focado em cinema Paulista. Recentemente no catálogo do SPcine Play estreou o documentário “Cine Marrocos”, de Ricardo Cury Calil, 2018, o filme trata de sem tetos que moram em um antigo cinema do centro de São Paulo que voltou a funcionar graças a equipe do filme. Oportunidade também de curtir filmes de Sabrina Fidalgo, Alice Riff, Ana Carolina, Helena Ignez, Rogério Sganzerla, Hector Babenco e Zé do caixão.
O Itaú Cultural também tem sua plataforma de streaming, o Itaú Cultural Play (ICPlay). Sem dúvidas o melhor acervo de longas, curtas, animações, do cinema independente brasileiro e toda a sua diversidade. Com destaque aos filmes de Ozualdo Candeias, Glauber Rocha, Joel Zito Araújo, Zózimo Bulbul, Eduardo Coutinho, entre outros, mas vale apreciar “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral, de 1985. Com a grande Marcélia Cartaxo, como protagonista, que também levou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim em 1986.
No TV Brasil Play, da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, um streaming que pertence ao governo brasileiro, temos um catálogo enxuto porém, com filmes “escolhidos a dedo” por exemplo: “Eles Não Usam Black-tie”, “O Som ao Redor”, “Temporada”, “Pitanga”, “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos”, “Cinema, Aspirinas e Urubus”, “Arábia”, "A Febre", e muito mais, vale conferir esse catálogo maravilhoso e que você pode indicar para aquele amigo que precisa conhecer o cinema nacional.
O Sesc Digital também é um dos grandes streamings, com uma curadoria excelente. Destacamos três documentários de Patricio Guzmán : ‘El Botón de Nação, (2015), “Nostalgia de La Luz (2019) e “A Cordilheira dos Sonhos” (2019), ambos os filmes tratam da influência da ditadura militar sobre a vida dos chilenos, ligado à história do país de genocídios, violências, de uma forma cansada, anestesiada, descrente na humanidade, mas que acredita no poder do universo.
Em novembro está prevista a inauguração de mais um streaming do Governo Federal. Vamos aguardar.
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Peru vai cobrar imposto sob venda das plataformas de streaming
Se juntando a países como Chile e Argentina, o governo peruano anunciou que irá cobrar imposto sob as assinaturas dos serviços de streaming no país. O objetivo da medida, segundo o Ministério da Economia e Finanças, é arrecadar cerca de US$215 milhões para os cofres públicos.
Os pagamentos começarão a ser exigidos a partir do dia 1º de outubro deste ano e se expande até mesmo para as plataformas de música, como é o caso do Spotify
A medida não traz nenhum benefício direto para o audiovisual local, já que a regulamentação do serviço vem sendo um tema de farpas políticas e, como se sabe, não onera o consumidor final com o tipo de tributo que se cobra. (No TaviLatam)
Uruguai aprova nova Lei dos Meios de Comunicação e abre caminho para concentração e monopólio internacional
Sendo uma novela que se arrasta no parlamento uruguaio desde que Lacalle Pou tomou posse em 2020, ao apagar das luzes do governo do Partido Nacional (já que projeções para a corrida presidencial deste ano já dá ampla vantagem para o Frente Amplio, coligação de esquerda), o país terá que lidar com uma reforma legislativa que irá afetar em cheio a produção audiovisual e liberdade de imprensa.
Do lado audiovisual, os novos artigos aprovados garantem o aumento das licenças que serviços de rádio e TV podem ter, ao mesmo tempo que abrem a possibilidade para que emissoras sejam adquiridas por conglomerados estrangeiros, fora o fato de que pouco tempo atrás, já foi revisto a obrigatoriedade de conteúdo nacional.
Já para o lado da imprensa, especialistas são muito claros em dizer que a remodelação ameaça diretamente a liberdade de expressão, já que a concentração midiática na mão de pequenos grandes grupos podem abrir uma porta para a censura prévia de programas jornalísticos e dos próprios profissionais.
Chama atenção ainda o timing e a correria para aprovar estas mudanças: a corrida eleitoral já começou e os partidos de direita seguem largando atrás da esquerda. A necessidade de domar a imprensa vem inclusive do Cabildo Abierto, partido da extrema-direita uruguaia e liderado pelo ex-oficial do Exército, Guido Manini Ríos, que para muitos quer ser o Bolsonaro do outro lado do Rio da Plata. (No Observador)
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