Simplificando Cinema #88
Brasil abre inscrições para profissionais participarem do Festival de Cannes | Japão quer parceria do Brasil para desenvolver TV 3.0 | Costa Rica aprova Lei do Audiovisual

Como noticiado na newsletter da semana passada, o Brasil foi escolhido como o convidado de honra na Marché du Film, área de mercado do Festival de Cannes. Neste contexto, o Centre National du Cinéma et de l’image animée (CNC) e a Marché du Film promoverão encontros de coprodução entre França e Brasil, que serão realizados em 20 de maio de 2025 em Cannes, na França.
Dez produtores de cinema brasileiro participarão do evento para mostrar seus projetos a potenciais parceiros do mercado francês selecionados pela equipe do evento. As inscrições ficam abertas até o dia 30 deste mês neste link e os profissionais selecionados serão informados por e-mail no dia 11 de abril.
Os projetos que podem ser escritos são filmes de longa-metragem de ficção e animações em desenvolvimento. Os candidatos devem ter empresas com sede no Brasil, além de que os inscritos já devem comprovar a produção ou co-produção de pelo menos três longas-metragens, assim como ter pelo menos um grupo com três projetos a serem apresentados aos potenciais parceiros franceses.
Os participantes devem pagar os custos de sua viagem e de sua estadia em Cannes. Pensando nisso, o Ministério da Cultura abriu um edital com intuito de levar os profissionais brasileiros até o evento. As inscrições são gratuitas e ficarão abertas entre os dias 7 e 17 deste mês, até às 18 horas (horário de Brasília).
Os selecionados receberão uma bolsa de R$10.000 mais uma credencial de mercado para participar dos encontros do evento. Se o selecionado estiver inscrito no Cannes Docs, a bolsa será de R$20.000, que contempla dois representantes por projeto.
Se o integrante for da Amazônia Legal, área que contempla os estados Amazonas, Amapá, Pará, Maranhão, Roraima, Acre, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso, contará com valor adicional de R$1.500 para auxiliar nos custos da viagem. As trinta vagas estão destruídas da seguinte maneira: 25% para pessoas negras, 10% para pessoas indígenas e 5% para pessoas com deficiência.
Apesar de louvável, os valores deste edital do Ministério da Cultura parecem meio descolados da realidade. Se passagens de voos domésticos já chegam hoje a valores acima dos R$3.000, como o MinC acredita que R$10.000,00 - R$20.000,00 será suficiente para viajar até Cannes e ainda pagar os custos da estadia, alimentação, transporte pela cidade?
Além de que soa ofensivo uma ajuda de custo tão baixa para os residentes dos estados da Amazônia Legal. Como dito, voos domésticos já passam tranquilamente dos R$3000, quanto que o MinC acha que uma pessoa que reside, por exemplo, no Amazonas pagará para sair de lá para poder pegar um vôo em São Paulo ou Rio em direção a França? Fica claro a falta de preparo para estruturar uma política pública sólida e em apoio internacional para obras brasileiras, especialmente quando se precisa lidar com um país de sobrenome “Ajuste Fiscal”.
Todo mundo surfou no sucesso de "Ainda estou aqui", da ministra ao presidente da República, mas algo daquele tamanho só pôde ser feito com muito dinheiro, valor que o MinC pelo visto não está disposto a investir já que abriu um edital com o que parece ser as moedinhas que sobraram no fundo do bolso do Ministério. (No TelaViva)
“Ainda Estou Aqui” vence o Oscar de Melhor Filme Internacional e Brasil se torna o terceiro país da América do Sul com a honraria
Após algumas décadas de tentativas, finalmente o Brasil pôde tirar do peito o grito de “É campeão!” no Oscar.
Alçado com a honraria de Melhor Filme Internacional, o drama de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui”, é apenas o quarto filme sul-americano a conquistar a estatueta, enquanto o Brasil se tornou o terceiro país desta porção do continente a possuir o prêmio.
Toda a repercussão da obra tem influenciado até mesmo decisões do STF sobre crimes ocorridos durante a ditadura, incluindo também o assassinato de Rubens Paiva, peça central do filme.
Se o legado para a formação mais sólida de uma indústria cinematográfica no Brasil pode ser mais difícil, torcemos enormemente que possamos estar diante de um futuro próximo para condenações de militares envolvidos na ditadura que assolou nosso país por 21 anos.
Brasil e Japão se tornam parceiros para o desenvolvimento da TV 3.0
No fim do mês passado, representantes do governo japonês e membros do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, Fórum SBTVD, se reuniram em São Paulo para debater uma cooperação sobre o desenvolvimento da TV 3.0.
A TV 3.0 representará um marco na evolução da radiodifusão ao oferecer uma qualidade superior de imagem e som, além de novas formas de interatividade como a união de vários canais num mesmo pacote de conteúdo disponível para assistir de acordo com sua contratação, uma forma de interação com o audiovisual e conteúdo linear nunca vista antes.
O projeto conta com participação do governo brasileiro e liderança do Fórum SBTVD, que já recebeu as propostas das especificações técnicas para esse novo padrão desde dezembro do ano passado.
Como já foi dito várias vezes aqui nesta newsletter, a TV 3.0 está batendo à porta, pensar na regulamentação do streaming fora do âmbito do marco regulatório brasileiro do setor será o mesmo que se preparar para disputar uma corrida de Fórmula 1 em 2025 com um carro de trinta anos atrás usado na modalidade.
Sempre avisaremos deste equívoco aqui no Simplificando Cinema para que ninguém no futuro não possa dizer que o erro foi cometido por falta de aviso. Quem avisa amigo é, já diz o ditado popular. (No TelaViva)
Cinema e seu Impacto Sociopolítico na América Latina
- And the Oscar goes to: “I'm Still Here”, Brasil! E o povo brasileiro comemora como se fosse uma Copa do Mundo em pleno Carnaval. Um feito emocionante, que traz junto, esse orgulho de ser brasileiro, mas e agora? Que diferença vai fazer para o cinema brasileiro? Qual será seu impacto político, social e econômico? Podemos começar pelo nosso vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional “Ainda Estou Aqui”, que merece ser apreciado na sala de cinema.
Diversos comentários em redes sociais citam os ganhos na visibilidade e na possibilidade de atrair mais coproduções. Também tivemos a prova de que precisamos de mais investimentos em campanhas e na promoção de nossas obras, mas o grande impacto do filme foi a questão política e social, pois o fato é que o filme trouxe para o debate a grande chaga do país, a ditadura militar, um assunto ainda não resolvido e que nos assombra.
A questão que a família Paiva e outras famílias ainda não terem enterrado seus entes queridos, é algo apavorante. Trazer essa discussão e reabrir investigações e punir os assassinos, torturadores, de fato, fazer justiça, seria o grande legado de “Ainda Estou Aqui”. Precisamos resolver esse assunto inacabado. SEM ANISTIA!
O Paraguai também se beneficiou com o cinema. O longa-metragem “Las Herederas”, de Marcelo Martinessi, de 2018, além da seleção oficial no Festival de Berlim de 2018, levou o prêmio de melhor atriz para a estreante Ana Brum, amiga pessoal do realizador.
“Las Herederas” foi um tapa na cara dos conservadores paraguaios e trouxe o debate sobre a tolerância de gênero e dos direitos LGBTQIAPN+ no país. O filme representa duas companheiras que vivem uma vida decadente em uma sociedade decadente, de antigas famílias de influência na ditadura de Stroessner. O filme fala de recomeço, de novos tempos e de não ter medo de seguir um novo rumo. Um filme belíssimo e emocionante. Disponível no Reserva Imovision.
O impacto do cinema também alcançou o campo das relações internacionais e diplomáticas, o filme boliviano, “El Sangre del Cóndor” (Yawar Mallku), falado em quechua, de Jorge Sanjinés, 1969, serviu como uma verdadeira denúncia contra políticas de embranquecimento racial praticadas nas comunidades indígenas na Bolívia, como a esterilização de mulheres, evitando que tivessem filhos.
A denúncia do filme causou incômodo no governo boliviano, culminando na expulsão da empresa Peace Corps do governo dos EUA do país. O filme representa a revolta dos indígenas contra membros dessas empresas governamentais que visavam acabar com as nações indígenas e tomar suas terras. Infelizmente não encontramos o filme no streaming. É um dos grandes filmes da história do cinema latino-americano, que também serviu de escola para diversos cineastas bolivianos, inclusive para Sanjinez.
Um filme que venceu o Oscar em 1986 de Melhor Filme Estrangeiro e que também trouxe o assunto da ditadura militar a tona foi “História Oficial”, o longa argentino dirigido Luis Puenzo e protagonizado pela grande Norma Aleandro, foi responsável em impulsionar a luta das “Mães da Praça de Maio” que protestavam contra o governo militar pelo desaparecimento de seus filhos.
O filme representa uma das ditaduras mais violentas da América Latina e sua prática de sequestro e adoção de crianças, filhos dos revolucionários presos e assassinados pelo governo militar argentino e tem como legado, manter viva essa memória. O filme está disponível de forma gratuita no Sesc Digital.
Não podemos esquecer-nos de outro filme oscarizado que causou um forte impacto social em seu país, o longa-metragem “Uma Mujer Fantástica”, de Sebastián Lelio que levou o Oscar de Melhor Filme Internacional para o Chile e proporcionou um grande debate, trazendo a visibilidade trans, os corpos trans para o debate, conscientizando e fortalecendo a luta LGBTQIAPN+ no país e influenciando em políticas públicas.
Um dos grandes efeitos do filme foi devido à atuação arrebatadora da protagonista Daniela Vega, que inclusive merecia uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, mas fez história sendo a primeira mulher trans a apresentar um prêmio no Oscar. Disponível na Netflix.
Outro benefício comprovado se dá quanto à atividade econômica. O Simplificando Cinema sempre reforça o impacto econômico que o cinema causa nos países, principalmente as nações que tomaram o cinema como uma atividade econômica de extrema importância, como a Coreia do Sul e outros países que valorizam e fomentam cinema como, Espanha, França, China e inclusive os EUA que usa também a força econômica e militar para impor sua cultura e dominação, também através do cinema.
A nossa grande luta, hoje, é por uma regulamentação do streaming justa, que possa desenvolver cada vez mais a indústria audiovisual brasileira e de outros países latino-americanos com autonomia e a valorização de nossas culturas.
Bom filme a todes!!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Anatel prorroga acordo com ABTA para ações antipirataria
E o cerco contra a pirataria continua a fechar no Brasil. A Anatel e a Associação Brasileira de TV por assinatura, a ABTA, celebraram a prorrogação do acordo de cooperação contra a pirataria no país.
Com o novo acordo indo até março de 2028, a Anatel diz que será possível incorporar ao Plano de Ação ao Combate à TV Box Pirata uma série de novas ferramentas que buscam ampliar a capacidade do alcance da operação contra o conteúdo pirata no Brasil.
O foco dessa parceria não ficará apenas nas TVs Boxes, mas como relembra a Ancine, a operação também buscará tirar do ar e encerrar sites e aplicativos responsáveis pela distribuição de conteúdo pirata.
Já com 15.000 endereços de IPs sob monitoramento, cerca de 1000 deles permanecem bloqueados por divulgarem conteúdo pirata.
É sempre bom lembrar que quando as corporações de streaming se sentem confortáveis para aumentar preço de assinaturas, cobrar para não ter acesso à publicidade, proibir o compartilhamento de senhas, é por conta de ações assim que operam em paralelo para diminuir nosso leque de opções para fugir dos desmandos das corporações que hoje controlam quase todo a produção e distribuição de obras audiovisuais em todo o mundo. (No TelaViva)
Mileto conclui aquisição da Oi TV
Na última sexta-feira, 28 de fevereiro, a Mileto Tecnologia completou a aquisição do segmento de TV por assinatura da Oi, a Oi TV. A compra foi confirmada pela companhia na quarta-feira, 5 de março.
Vencedora do leilão judicial realizado em fevereiro, no contexto em que a Oi passa por uma recuperação judicial. A Mileto pagará pela unidade um valor de até R$30 milhões, sendo a soma de R$10 milhões paga em até 60 dias e um pagamento variável de até R$20 milhões que depende do número de assinantes ativos que a empresa terá dentro de dois anos.
A Mileto divulgou que pretende ficar apenas no segmento de oferta de serviços de TV por assinatura, focando na melhoria da oferta de conteúdos e aperfeiçoando o conteúdo linear.
O investimento no segmento da TV por assinatura mostra que esse modelo de negócios não está morto como é costume ler em certos cantos da internet. (No TelaViva)
Costa Rica aprova Lei do Audiovisual pela primeira vez no país
No último dia 13 de fevereiro, a Costa Rica conquistou finalmente a aprovação da sua Lei do Audiovisual após anos de formulação e tentativas de levar o projeto para plenário.
Com uma aprovação unânime, o objetivo principal é fortalecer acordos bilaterais para conquistar bons contratos de coprodução com países latinos e até mesmo europeus, aumentando assim a capacidade produtiva do país e sua geração de emprego e renda.
Além disso, o governo também cita a possibilidade da legislação atrair um potencial de turismo maior para o país, seja com as próprias locações dos filmes ou como consequência das produções para o público. (No CulturaCR)
República Dominicana prepara lei para atualizar marco regulatório das telecomunicações
O Indotel (Instituto Dominicano de Telecomunicações), comunicou que considera submeter à câmara federal do país um projeto de lei para reformar a Lei Geral de Telecomunicações, que está em vigor desde 1998.
O presidente do Conselho de Administração, Guido Gómez Mazara, comentou sobre como a legislação atual está defasada perante os avanços tecnológicos, ele falou sobre como a lei cita o fax, mas não diz nada sobre a internet, o que para ele é uma justificativa para a reforma.
Guido Mazara anunciou que no dia 17 de março, o Indotel organizada um fórum "Para onde vão os meios de comunicação?", que contará com a participação de jornalistas e especialistas do setor, cujo objetivo é discutir a obsolescência da regulamentação dominicana, assim como as modificações necessárias, e apresentar posteriormente a proposta da reforma da legislação do país sobre o tema.
O Brasil deveria tomar como exemplo esse debate feito na República Dominicana, já que arrisca aprovar uma regulamentação do streaming que já 'nasceria' obsoleta perante o iminente lançamento da TV 3.0 nos próximos anos. (No Observacom)
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