Simplificando Cinema #94
Setor audiovisual lança campanha por 12% de Condecine na regulamentação do streaming | INCAA não aprovou nenhum projeto audiovisual no ano passado e Argentina pode sofrer apagão cultural.
Mais de 40 organizações ligadas ao audiovisual brasileiro se juntaram para lançar a campanha VOD12, que consiste na mobilização pela defesa do investimento de 12% da receita das plataformas de streaming que atuam no Brasil seja investido em produções nacionais. Uma carta foi enviada ao Governo Federal e aos parlamentares pela Frente Ampla pelo Audiovisual e outras entidades do setor onde elas alertam para o risco prejudicial à indústria nacional do cinema e televisão presente na regulamentação debatida entre o Ministério da Cultura e o Congresso Nacional.
O desejo presente neste manifesto apresentado pelas entidades é exigir que as plataformas de streaming contribuam com 12% do faturamento bruto que elas obtiverem no Brasil. O manifesto também pede que 70% deste valor seja de forma obrigatória destinado ao Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), e os 30% restantes deverão ser investidos exclusivamente em obras independentes brasileiras. Também exigem que o desconto máximo na contribuição seja de 50% para plataformas com mais de 70% do catálogo de obras nacionais (filmes e séries).
As reivindicações são mais que justas e ficamos felizes pela mobilização do setor audiovisual brasileiro. Nos últimos anos, os trabalhadores do audiovisual no Brasil foram constantemente humilhados com ofertas com valores constrangedores em seus contratos de trabalho. Ao mesmo tempo que as empresas do streaming mandam press releases anuais para vários veículos que decidem pelo editorial passivo perante contradições tão flagrantes.
Quando questionados sobre os baixos salários aos profissionais do setor e o não pagamento de impostos por parte dessas empresas, seus executivos decidem adotar o lero-lero liberal e disparar jargões, tão descolados da realidade quanto os que acreditaram que em pleno 2025 um Neymar sem condições físicas voltaria ao Brasil para liderar uma Seleção mais desnorteada que alguns nomes da Ancine quando questionados pelas ações concretas da agência para com os trabalhadores da indústria audiovisual brasileira. (No TelaViva)
Netflix reduz participação no mercado brasileiro e vê concorrente crescer
A empresa alemã JustWatch, que faz monitoramento de plataformas de streaming ao redor do mundo, divulgou a participação das plataformas de streaming no mercado brasileiro no período do primeiro trimestre de 2025. A análise contou com os quatro milhões de usuários brasileiros na plataforma alemã.
O relatório apresentado pela empresa revelou que a Netflix ainda continua como o streaming mais usado no Brasil com 23% de participação no mercado, com o Prime Video chegando perto, ocupando assim o segundo lugar com a soma de 21%. Disney+, Max e Globoplay somam 38% da demanda total, sendo que a plataforma brasileira (Globoplay) tem 11%. Só essas cinco empresas dominam 80% do mercado brasileiro.
Entre os serviços que mais cresceram está o Paramount+ com o incrível feito de ter dobrado sua participação no mercado brasileiro, saindo de 2% para 4%, feito que muito provavelmente foi graças ao começo da Copa Libertadores da América, leitura que pode ser feita com o crescimento de 3% desde dezembro do ano passado, competição que a plataforma exibe no Brasil. Apple TV+ aparece com 6%, a plataforma MUBI parece logo com 3%, outras somam 5%.
Para além de ter uma forma própria de contar sua audiência, muitas vezes inflando números e fazendo abordagens criativas com os dados, o streaming continua a contar cima boa vontade da interpretação dos dados, o que causa uma impressão equivocada que a TV está sendo substituída, quando não verdade foi o streaming que precisou se adequar aos moldes da TV para sobreviver para além do dinheiro aplicado por investidores desse modelo de negócios. (No TelaViva)
Em novo contrato, Associação de Futebol Argentino libera Warner comercializar TNT Sports Premium fora do pacote da TV a cabo
Após renovar o contrato de transmissão do futebol argentino com a AFA (Asociación del Fútbol Argentino), a Warner Bros Discovery obteve permissão para vender o pacote de transmissão de jogos fora do plano da TV paga, opção que não estava disponível no contrato anterior e foi derrubada via decisão judicial como foi noticiamos na newsletter #87.
Com este novo contrato, renovado até 2031, a WBD poderá oferecer o pacote TNT Sports Premium para clientes de internet e telefone sem que tenham uma assinatura de TV paga, venda que será feita por meio de operadoras de TV/telefonia, que queiram acompanhar partidas do campeonato argentino da primeira divisão.
Não foi a primeira vez, e muito menos será a última, que uma empresa de streaming consegue aval para comercializar conteúdos da TV linear aos moldes do streaming enquanto nega veementemente que seu modelo de negócios continua 100% no formato de catálogo mesmo enquanto oferece conteúdo ao vivo com um horário pré-estabelecido para começar e terminar. (No TaviLatam)
Cinema e Resistência – Através do Olhar Indígena
No dia 19 de abril celebramos o dia dos povos originários e sabemos que por mais que tenha tido avanços no campo político e representativo, como o ministério dos povos indígenas com a nomeação da Ministra Sonia Guajajara e da presidenta da FUNAI Joenia Wapichana, mulheres representantes de seus povos, ainda vemos quase que diariamente indígenas de diferentes povos sendo assassinados, sofrendo com seus territórios invadidos por igrejas, grileiros, garimpos ilegais, represas, estradas, uma série de agressões. Mesmo no Governo Lula, ainda vemos muitas terras indígenas não homologadas, dificultando a proteção dos povos e do que resta de suas culturas.
A nossa esperança está na força dos povos indígenas em resistirem a mais de 500 anos e hoje cada vez mais se organizam politicamente, também se apropriando das tecnologias para protegerem seus territórios, para se comunicarem e para mostrar suas culturas, realidades e denunciarem todas as agressões que cotidianamente vem sofrendo.
Hoje vamos indicar filmes realizados por indígenas, o seu olhar sobre sua própria cultura e como lidam com a linguagem cinematográfica para falar de si próprio. Uma forma de adentrar na intimidade de povos que resistem e de extrema importância para a conscientização da importância da preservação ambiental, da natureza e seus ecossistemas. Também da importância do audiovisual para dar visibilidade aos povos originários e registrar suas diversidades culturais e linguísticas, de várias partes do país.
“Ibirapema”, de Olinda Tupinambá, 2022. É uma obra performática confrontando o mítico e o real, refletindo sobre os conhecimentos indígenas, de suas culturas e manifestações sendo tomadas pela cultura do não indígena e a forma como se relacionam com a cultura indígena. É o olhar indígena sobre o invasor. Filme disponível no Itaú Cultural Play.
Do povo Guarani M’bya da aldeia Kalipety em São Paulo, o curta-metragem "Aguyjevete, Avaxi'i", de Kerexu Martim, de 2023, traz a retomada do cultivo e da importância do milho crioulo, do milho tradicional que por pouco não foi completamente perdido. Graças ao povo Guarani o milho resistiu, um elemento que tem um importante significado para um povo. Não alimenta somente o físico e sim fortalece o espírito e a cultura Guarani M’bya. O filme foi premiado no Festival É Tudo Verdade 2024. Disponível no Itaú Cultural Play
Em “Mãri hi – A Árvore do Sonho", de Morzaniel Ɨramari, 2023, o documentário traz a importância dos sonhos para a cultura Yanomami. No Itaú Cultural Play
"Teko Haxy – Ser Imperfeita", de Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Sophia Pinheiro Patricia é um ótimo filme para tratar da linguagem cinematográfica para servir um diálogo despojado cheio de significados entre Patrícia, indígena da etnia Mbyá-Guarani e Sophia uma antropóloga não indígena. Itaú Cultural Play
"Singyat - Pescaria do Timbó", de Aruti Kaiabi, Ewa Kaiabi, Juirua Kaiabi, Mairiwata Kaiabi, Reai'i Kaiabi, Reiria Kaiabi, Rywa Kaiabi, Ukaraiup Kaiabi, Urukari Kaiabi Wyiry Kaiabi, 2023. Essa obra coletiva do povo Kaiabi, da aldeia Guarujá do Território Indígena do Xingu (TIX), do estado de Mato Grosso, trazendo a sábia pesca com o timbó. Um conhecimento Kaiabi que depende de um ecossistema saudável e equilibrado. No SPcine Play
Parte da trilogia sobre a alimentação indígena, “Bibiru: kaikuxi Panema”, de André Lopes Latso Apalai, 2023, o documentário trata sobre a caça, uma das principais atividades do povo Wayana-Apalai da aldeia Bona no Pará. No Sesc Digital
Indicamos alguns filmes que tratam das culturas indígenas e sua importância, principalmente de streamings gratuitos: Sesc Digital, Itaú Cultural Play e SPCine Play, onde também poderá encontrar outros filmes de produção indígena.
A produção indígena de audiovisual vem aumentando graças aos editais afirmativos, algo que temos que defender com todas as forças, pois graças a esses editais estamos tendo acesso ao olhar indígena de sua própria cultura. É produção de conhecimento indígena. Bom filme a todes!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
INCAA registrou zero obras aprovadas para fomento no audiovisual argentino em 2024
Com os planos de apagamento cultural na Argentina de vento em poupa, a Associação de Produtores Independentes do Audiovisual (APIMA, na sigla em espanhol) denunciou esta semana que os últimos filmes aprovados com fomento público no país ocorreram ainda na gestão do ex-presidente Alberto Fernández.
Segundo o grupo, esta é a primeira vez que a Argentina passa por um ano sem nenhuma ajuda para o setor audiovisual desde que o INCAA surgiu ainda na década de 1960.
A situação se agrava também com a participação do país pelos festivais e laboratórios audiovisuais pelo mundo, uma vez que sem novos projetos, é possível que a partir de 2026 não tenhamos a presença de nenhuma produção do país referência em cinema latino para muitos.
O apagamento pode ainda afetar projetos que já vinham sendo elaborados em parceria com outros países, como o Brasil e Uruguai, por exemplo. (No Página12)
Chile e Uruguai fecham acordo de coprodução audiovisual para fortalecer o setor em ambos países
Na última segunda-feira (14/04), durante o Congresso Ibero-americano de Cultura, Chile e Uruguai formalizaram o acordo de coprodução internacional com o intuito de fortalecer o setor cultural em ambos países.
Entre as cláusulas do acordo está a possibilidade de reconhecimento da obra como nacional tanto no Chile quanto no Uruguai, o que facilita as burocracias da produção e impulsiona uma maior distribuição das obras.
Para o Chile, o novo acordo chega em um momento estratégico de revitalização das políticas de fomento ao audiovisual, já que o ProChile, organização responsável pelo mercado audiovisual, reativou a Film Commission. (No site oficial do governo chileno)
Governo Dominicano coloca em risco incentivos fiscais do audiovisual em novo PL
A Associação Dominicana de Profissionais da Indústria Cinematográfica (Adocine, na sigla em espanhol), divulgou seu descontentamento com uma nova investida do governo federal contra a manutenção dos incentivos fiscais ao audiovisual no país.
Após um 2024 marcado por uma intensa luta de retirar o setor audiovisual da reforma fiscal do país, o governo quer agora aprovar o PL de Regimes Fiscais, que em tese nada difere da reforma elaborada no ano passado.
O autor da PL, o deputado Rogelio Genao, pediu uma revisão extensa na Lei do Audiovisual do país, mirando nas porcentagens de dedução liberadas para produções que escolhem a República Dominicana para realizar produções e, consequentemente, geram emprego e renda para o país.
Segundo a associação, caso o PL ganhe força e seja aprovado, o impacto na indústria audiovisual seria catastrófico, com a perda imediata de 25 mil postos de trabalho e uma redução de mais de US$200 milhões em investimentos estrangeiros no país. (No Prensa Latina)