Simplificando Cinema #98
Ancine avança na operação Malha Fina e mais de três mil prestações de contas foram analisadas.
Os trabalhos da força tarefa criada pela Ancine para tratar dos processos que estavam com risco de prescrição, da iniciativa Malha Fina Ancine, foram concluídos, segundo a própria agência. Foram mais de três mil prestações de conta analisadas, homologadas e arquivadas, assim reduzindo o passivo de 5.358 para 1.731.
Na segunda fase a agência analisou os processos restantes e identificou que 760 prescreveram de acordo com parâmetros estabelecidos Resolução TCU n.º 344/2022 e pela Instrução Normativa TCU n.º 98/2024, estes processos serão enviados para o Tribunal de Contas da União (TCU), que é o órgão competente para reconhecer em definitivo a prescrição dos processos.
Sobraram 971 processos da iniciativa Malha Fina Ancine, eles já se encontram em análise e segundo a agência não foram encontradas irregularidades até o momento. (No TelaViva)
Justiça de Goiás proíbe Amazon Prime Video de exibir anúncios
Em ação favorável aos usuários do Brasil, o Tribunal de Justiça de Goiás concedeu uma liminar que proíbe a Amazon de veicular propaganda na plataforma do Prime Video.
A medida é válida para todos os clientes do país e que adquiriram sua assinatura antes do lançamento do plano com anúncios em abril de 2025. O Ministério Público de Goiás moveu o caso e acusou a plataforma de práticas abusivas sob a alegação que a Amazon modificou unilateralmente os termos do contrato ao incluir publicidade em sua plataforma.
A liminar indica que a justiça delimitou que o Prime Video deve parar de exibir anúncios e de cobrar por um plano sem publicidade. Para os novos assinantes, a justiça delimitou que a Amazon pode vender planos com anúncios, mas que deve informar aos clientes sobre a frequência e a duração da publicidade durante a exibição em sua plataforma. (No TaviLatam)
Plano com anúncios da Netflix já conta com mais de 94 milhões de usuários ativos
Em evento voltado para o mercado publicitário estadunidense, o Netflix Upfront, a gigante do streaming anunciou que chegou ao número de 94 milhões de assinantes mensais ativos no plano com anúncios na plataforma, sendo que a maioria desse público está entre os 18 e 34 anos. Este número representa quase 1/3 dos mais de 300 milhões assinantes mensais ativos que a Netflix divulgou em janeiro deste ano.
Amy Reinhard, presidente global de publicidade da Netflix, deu destaque a Netflix Ads Suite, plataforma da empresa voltada para a publicidade que já está disponível nos EUA e Canadá com planos de ampliação para todos os doze países que contam com o plano com anúncios - no Brasil chega até junho deste ano.
Uma das funcionalidades prometidas para o futuro pela Netflix é a compra direta na tela quando um produto passar em alguma propaganda, uma opção que já havíamos noticiado estar presente na TV 3.0 projetada Globo.
Outro ponto foram as transmissões Ao Vivo na plataforma, tendo já transmitido NFL e WWE, a plataforma afirmou que busca reforçar seu catálogo com esse tipo de conteúdo.
Publicidade, conteúdo ao vivo, um cronograma pré-estabelecido, isso lembra alguma coisa? Bom, a TV 3.0 é um projeto mais que palpável, aos que acreditam que é algo para um futuro distante, a realidade não costuma pedir licença, quem avisa amigo é. (No TelaViva)
Insurgentes – Sonhos, Cinema e Política
Na última terça-feira, dia 13 de maio, a América Latina perdia um de seus grandes libertadores do século XX e XXI, o uruguaio José Alberto Mujica Cordano, nosso querido Pepe Mujica, que faleceu aos 89 anos.
Um libertador, pois no período das ditaduras militares na América do Sul, Pepe lutava contra os golpistas que tiveram total apoio estadunidense. Essa luta ficou marcada por sua resistência. Ficou preso durante cerca de 12 anos, em solitárias, mudando de uma prisão para outra, como um refém, para que o MLN-Tupamaros, grupo de Guerrilha Urbana, no qual Pepe fazia parte, não agisse contra os militares.
Essa história foi representada no Cinema no excelente longa-metragem uruguaio, “La Noche de 12 Años”, de Álvaro Brechner, 2018. O filme já esteve no catálogo da Netflix por uma boa temporada, provavelmente voltará para o streaming em breve. O filme está disponível no Dailymotion numa qualidade não muito boa
Pepe Mujica foi um jovem latino-americano, que mais do que um sonhador e um insurgente, fazia parte de uma geração que estava convicta que iriam “cambiar el mundo”, foi para luta armada e depois do fim da ditadura uruguaia, ascendeu na política até se tornar presidente do Uruguai em 2010.
Sua conduta e humildade como Presidente da República, sempre foi admirada pelo mundo afora, como também sua filosofia, seus pensamentos, que mais eram ensinamentos à humanidade. O cinema felizmente fez muitos registros de seu pensamento, atraindo grandes realizadores do cinema mundial como o sérvio Emir Kusturica que realizou o documentário “El Pepe, uma Vida Suprema”, 2018, disponível na Netflix.
O filme consegue captar toda a filosofia de vida de Mujica, em sua chácara no Uruguai e seu legado na política. Pepe era um representante do povo, um insurgente que acreditava na igualdade, nas causas ambientais, era um crítico ferrenho ao capitalismo e ao consumismo, mas antes de acreditar na democracia, sua luta por dignidade ao povo uruguaio foi junto a um coletivo na luta armada.
Temos muitos filmes que representam levantes populares. O clássico “Actas de Marusia”, de Miguel Littín, 1975, é uma verdadeira super-produção para a época. Um filme realizado no exílio de Littín no México.
O longa chileno representa o histórico massacre nas minas de salitre na cidade de Marusia no Chile, que foi uma verdadeira chacina promovida pelo governo do presidente Arturo Alessandri. Mais de 500 trabalhadores foram mortos em plena véspera de Natal com as famílias dos trabalhadores presentes. Um fato pouco lembrado e foi uma verdadeira denúncia ao que estava acontecendo na ditadura militar chilena de 1973. O filme está disponível no acervo da Cinemateca do Chile online
Outro filme maravilhoso que trata das raízes de conflitos populares, é outro clássico pouco lembrado pela Cinefilia: o filme mexicano “Raíces”, de Benito Alazraki, 1954. Uma grande obra do cinema mexicano, premiada em Cannes, fundamental na renovação cinematográfica do país, com forte influência do neorrealismo italiano, confrontou a cultura indígena com a ocidental. Até hoje causa polêmica no país.
O filme é divido em 4 curtas de diferentes partes do Méxco, com diferentes povos indígenas e campesinos, mostrando a influência do colonizador e a resistência do povo mexicano de Emiliano Zapata, Pancho Villa e de outros líderes populares da Revolução Mexicana. Disponível no Youtube em boa qualidade no canal Álvaro González
Da Argentina outro clássico, “La Patagonia Rebelde”, Hector Oliveira, 1974. Um clássico do Cinema Político Argentino, premiado no Festival de Berlim. Um filme de 1974 sobre fatos históricos de 1921-1922, do fuzilamento de centenas de trabalhadores rurais em greve, sob a liderança de sindicatos. O fato do filme representar um acontecimento histórico do início do século XX, se torna assustador de um povo latino que comprou a ideia de uma elite ignorante e exploradora, que usa o Estado para sua segurança e rechaça quem comprometer a atual estrutura. Algo muito contemporâneo.
O longa foi proibido na Argentina durante a ditadura, por mostrar a luta por dignidade e valor ao povo trabalhador. O filme está no YouTube em uma cópia razoável no canal Putr-essence Filmes & Vídeos 2
Não podemos deixar de fora um filme que abalou a história do cinema mundial, direto do Brasil, Bahia, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Com apenas 25 anos, Glauber Rocha esteve em Cannes de 1964, deixando todos atônitos na apresentação do filme na seleção oficial do Festival. A Revolução está mais na obra em si, do que na própria história, do levante do oprimido, mergulhado na fome e na miséria, de um povo sem esperança, à espera de uma providência divina. O filme é fácil de encontrar, mas está disponível também no Globoplay.
Aqui foram algumas dicas de filmes tratando sobre sonhadores e insurgentes, no intuito de instigar também a pesquisa por mais filmes latino-americanos que tratam de nossas lutas, de nossos problemas sociais e dos nossos sonhos de “cambiar el mundo”. Como já dizia “Um Senhor Muito Velho com Umas Asas Enormes”: “A utopia é que nos faz caminhar”.
Bom filme a todes!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Festival de Cannes manda dura mensagem sobre a fragilidade do cinema argentino
Na última segunda-feira, 12 de maio, o diretor-geral do festival de Cannes, na França, Thierry Frémaux, enfatizou o "erro" que é o enfraquecimento do cinema argentino graças aos ataques feitos por Milei desde o começo do seu mandato, que foca na destruição de tudo que é público para assim poder entregar aos seus comparsas da iniciativa privada.
Frémaux disse que "o cinema é importante para a cultura, para valorizar a história e a força de um país. Não devemos diminuir seu poder, mas sim desenvolvê-lo". Contudo, mesmo com uma fala tão direta, ele não culpou tais políticas pela ausência de filmes argentinos em Cannes, que contará apenas com um curta na seção Cinef.
Contudo, mesmo após os constantes cortes ao INCAA (em espanhol, Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales), Frémaux disse que os primeiros efeitos ainda não visíveis. Neste ponto discordamos do Frémaux, as políticas de cortes do Milei são as responsáveis diretas pelo enfraquecimento do cinema argentino.
Tem quem acha que os argentinos são naturalmente melhores em audiovisual; por isso, fazem tantos filmes, mas isso é um grande equívoco, o cinema argentino é fruto de muito trabalho e luta dos trabalhadores do setor por políticas públicas, não há excepcionalismo algum, como mostra os cortes do Milei, sem os investimentos públicos não há talento que resista, afinal de contas pessoais precisam ser pagas para uma produção desta sair do papel, por mais que o atual presidente lute por um país onde o pagamento aos trabalhadores seja a fotossíntese.
Dinheiro ainda é necessário dentro da sociedade argentina, então enquanto o INCAA sofrer com os cortes, o talento argentino ficará só na memória, ou pior, entregue ao streaming que esfrega as mãos e sorri cada vez que a motosserra do Milei se volta mais uma vez às políticas públicas do audiovisual nacional. (No InfoBae)
Colômbia enfrenta crise nas salas de cinemas e especialistas culpam erroneamente o audiovisual local
Como já noticiado aqui na newsletter, o mercado exibidor colombiano atravessa uma crescente crise que não mostra sinais de melhora. No primeiro trimestre de 2025, a receita de bilheteria sofreu uma queda de 2,4% em relação a 2024, com essa perda sendo maior em março deste ano quando 2,5 milhões de espectadores foram aos cinemas, 1,3 milhões a menos em relação aos 3,8 milhões de pessoas que foram às salas de cinema do país em março de 2024. Esse número de espectadores menor refletiu em menos 13,4 bilhões de pesos colombianos, sendo 33,5 bilhões em março de 2025 e 46,6 bilhões de pesos em relação ao mesmo período do ano anterior.
Apesar de 2024 ter sido um ano cheio de lançamentos colombianos, ele foi o terceiro pior da década, atrás apenas dos anos que os cinemas ficaram fechados por conta da pandemia de COVID-19, tendo 49,5 milhões de espectadores, número que representa a queda de 4,2 milhões de espectadores em relação a 2023.
Contudo, o lançamento de mais filmes nacionais não explica a totalidade da realidade da queda no mercado exibidor colombiano, já que o fator mais determinante para essa queda é a mudança no perfil de consumo dos colombianos, sendo as plataformas de streaming responsáveis diretamente por isso.
Em 2019, a Colômbia era o terceiro maior mercado do streaming na América do Sul com 73 milhões de espectadores, a pandemia adiantou esse processo quando as pessoas se viram a ficar confinadas durante a pandemia e os cinemas fecharam. Mesmo entendendo as diferenças culturais e econômicas entre os dois países, traçamos um paralelo entre Brasil e a Colômbia.
A forma de consumir audiovisual mudou durante a pandemia, seja pelas mudanças comportamentais das pessoas, que acham de bom-tom usar os celulares nas sessões, seja para gravar stories, já que para muitos é impossível ficar 2 a 3 horas sem dar satisfação da própria vida, seja fazendo ligações, então as pessoas preferem esperar por esses filmes no streaming, assim economizam no deslocamento até os cinemas, em sua maioria em shoppings, assim como nos lanches. O que leva ao assunto das janelas de exibição no cinema cada vez menores, com casos de lançamentos no streaming antes de 45 dias da exibição nas telonas.
Outro ponto a se pensar sobre América Latina é a questão do domínio de Hollywood por aqui, então o que está famoso por lá já é algo mais que batido para a audiência da porção sul do continente americano. Escolha entre vários sabores, os que costumam tomar mais de 50% das salas de exibição por aqui são os que levam a Marvel. Piada a cada cinco segundos, roteiros feitos numa forma mais que manjada, tramas cada vez mais desinteressantes, filmes cada vez mais feios graças a um trabalho de CGI péssimo, artistas sem poder criar porque os executivos que dão a palavra final, então por que alguém enfrentaria trânsito, filas e pagaria caro num ingresso para ver isso quando em 45 dias, ou menos, estará disponível em algum streaming?
Quando algo único surge, mesmo um produto hollywoodiano como Pecadores é atropelado por Marvel, Warner e os delírios do Zaslav [permitam-me a liberdade de expressar o quão preocupado eu fico quando um filme horroroso como Minecraft faz o sucesso que fez, por mais que o jogo seja um dos mais famosos de todos os tempos, em alta até hoje, isso é para ligar todos os sinais de alerta, se que alguns ainda não estava ligado]. O caso da Colômbia é mais um de mudança no perfil de consumo, não sabemos como os exibidores do país lidarão com isso, mas não é um fenômeno único e solto no tempo espaço, muito pelo contrário. (No America Retail)
Peru é destaque em Cannes como destino de filmagens
Mesmo enfrentando polêmicas dentro do próprio país sobre os apoios estatais para o audiovisual, o Peru está chamando atenção da edição atual do Festival de Cannes como uma Film Commission atrativa para filmagens e, consequentemente, o turismo pela região.
Esta é a primeira vez que o país andino pisa no maior festival de cinema do mundo, e com sua “Film in Peru”, expõe em seu stand na Marché du Film as 10 localidades mais interessantes para produções estrangeiras.
O país chega a Cannes munido de um bom currículo: nos últimos anos, produções como “Transformers” e “Paddington no Peru” foram realizadas com sucesso. (No site oficial do governo)