Simplificando Cinema #99
Jandira Feghali apresenta novo parecer para o PL do streaming, mas regulamentação ainda carece de segurança.
Em mais um capítulo interminável da novela do PL do streaming, um novo parecer foi apresentado pela deputada Jandira Feghali com alterações na cota de tela e alíquotas para às empresas via Condecine.
Mesmo com intensa campanha por parte do setor por um Condecine de 12%, a deputada, com ampla atuação na pauta cultural, não conseguiu driblar o lobby pesado dos conglomerados no Congresso e rejeitou a emenda da deputada Sâmia Bomfim, que previa a porcentagem e um desconto de somente 30% para investimentos privados no audiovisual brasileiro.
No entanto, a emenda do deputado Tarcísio Motta, que prevê uma alíquota intermediária de 3% da Condecine foi acatada integralmente, apesar do desconto feroz de 60% ser mantido, o que, na prática, faz com que o FSA acabe não recebendo tanto dinheiro assim com a legislação.
Em relação às cotas, quase nada foi modificado, com exceção do tempo da janela de exibição entre a sala de cinema e o serviço de streaming, estipulando um espaço de apenas 9 semanas, o que segue sendo prejudicial para o filme brasileiro, uma vez que o mesmo já sofre com a baixa exibição nas salas, ainda que o retorno da cota tenha melhorado um pouco a situação.
Já em questão de programação linear crescente nos serviços, nada é citado. As obrigações desta continuam a ser pautadas pela Lei da TV Paga, que vem sofrendo pressão das operadoras de TV e internet para ter suas regras afrouxadas, já que para o streaming a banda continua a tocar animadamente a favor dos conglomerados.
A regulação continua fraca e ineficaz a longo prazo. Vamos comemorar uma conquista que ficará obsoleta em pouquíssimo tempo. (No TelaViva)
Produtoras do Capão Redondo levam filme sobre a boxeadora Jucielen Romeu ao Marché Du Film
A Vericéia Filmes, produtora paulista com foco em cinema de impacto social e decolonial, foi selecionada para participar do Marché du Film, evento de mercado do Festival de Cannes
2025, com apoio da Spcine por meio do Edital de Chamamento Aberto e pelo programa Cinema do Brasil. O Marché du Film aconteceu de 13 a 21 de maio, no Palais des Festivals et des Congrès, em Cannes.
No evento, as empresas e projetos buscaram financiar, produzir, distribuir ou vender seus filmes. A Vericéia Filmes foi uma das 10 empresas paulistas selecionadas para participar do evento com apoio financeiro e credencial.
Representada pelo cineasta Lincoln Péricles, produtor executivo da Astúcia Filmes, a Vericéia busca por coprodução e financiamento para dois longas-metragens em desenvolvimento: o documentário "Sobre a Luta", dirigido por Péricles, e "Tesouro da Memória", dirigido por Priscila Nascimento.
O documentário Sobre a Luta é uma coprodução entre os coletivos Vericéia Filmes, Astúcia Filmes, Boca do Rio e Coletivo Quitus. O projeto já integrou laboratórios e mercados internacionais, como o DOCSP, Histórias que Ficam e o European Film Market.
Em 2025, foi contemplado pelo William Greaves Fund de Pesquisa e Desenvolvimento, da Firelight Media, e é co-produzido pela produtora francesa Écarlate. O filme acompanha a trajetória da boxeadora Jucielen Romeu, a sua rotina e a sua participação na Olimpíada de Paris.
Em junho de 2024, as produtoras realizaram, com recursos próprios e apoio de colegas por meio de uma rifa, uma viagem a Paris para registrar a atleta nos Jogos Olímpicos.
O filme "O Tesouro da Memória", longa de ficção de Priscila Nascimento, narra a história de uma social media esgotada que, após perder tudo, descobre um mapa do tesouro costurado à mão. Cruzando o sertão de Pernambuco, ela precisará superar os herdeiros de um império canavieiro para recuperar um legado enraizado na terra. O projeto busca financiamento no mercado internacional.
“Nosso objetivo é fazer com que mais pessoas conheçam os nossos filmes e possamos ampliar as conexões com mercados internacionais e distribuidores, conhecendo produtores e parceiros para projetos futuros”, comenta Ronaldo Dimer, fundador e coordenador geral da Vericéia Filmes.
“Estamos buscando ativamente financiamento e parcerias para o'Sobre a Luta' e 'Tesouro da Memória’, mas também construir pontes, trocar experiências e fortalecer a autonomia na produção de narrativas essenciais para nós e para as comunidades de onde viemos”, ressalta Péricles, produtor executivo da Astúcia Filmes, que apresenta um portfólio coletivo com 10 projetos — 4 da Vericéia e 6 da Astúcia. (Pela Assessoria de Imprensa da Produtora)
Pirataria atinge parcela significativa de lares na América Latina
Um estudo feito pela BB Media sobre a pirataria de obras audiovisuais na América Latina em relação ao último trimestre de 2024, apontou para a grande inserção do modelo nos lares latinos, com os destaques ficando com a transmissão de eventos esportivos com 27% e em segundo lugar a transmissão de séries e filmes com 21%. O meio mais utilizado para acompanhar transmissões piratas é a internet, com 75,20% dos acessos.
Os países que mais usam da pirataria são, segundo o estudo: Equador com 59,88% dos lares, seguido por Colômbia com 54,23%, Peru 48,50%, Uruguai 46,98%, já 45,47% dos lares da Argentina utilizam da pirataria, Chile tem 39,88% dos lares usando de meios alternativos, seguido pelo México com 31,90%. O Brasil de destaca por números totais, mas a porcentagem dos lares que usam da pirataria ficou em menos de 30%, com 27,36%, o que aponta para a realidade do acesso à internet.
Mesmo tendo mais de 90% dos lares brasileiros com acesso à internet , apenas 22% dos brasileiros possuem boa conexão de internet . Há outros fatores como o de não saber acessar as plataformas/sites que dão acesso à pirataria.
Contudo, é necessário também pensar na realidade dos preços oferecidos na região. Tomando o caso do Brasil, alguém que queira acompanhar as principais competições de futebol, o esporte mais popular no país, tanto nacionais como internacionais, se for pagar por todos os serviços de streaming que transmitem esses jogos, pagará em média mais de R$ 120 mês para ter acesso aos três serviços que ofertam esses jogos, são eles Premiere, Disney+(o plano mais caro), Prime Video e HBO Max. (No TelaViva)
América Latina em Cannes
No dia 23 de maio se celebra o dia do Cinema Argentino em ocasião ao primeiro filme narrativo com atores profissionais, "La Revolución de Mayo", do italiano radicado argentino, Mario Gallo, 1909. Não precisamos destacar a força e a representatividade do cinema argentino no mundo, mas que um delinquente, presidente da Argentina, destrua com um cinema tradicional, de extrema qualidade, isso é algo que vai além do inaceitável.
É o que está acontecendo com o cinema argentino hoje na presidência de Milei, um ultra-capitalista, que tem como inimigo, a cultura. A motosserra insana do Milei fez cortes que paralisaram a indústria do cinema na Argentina. Afetando a vida de muitos atores e realizadores, de toda uma rede de profissionais altamente qualificados. E essa investida contra o cinema de seu próprio país, é desde que tomou posse em 2023.
A ausência do cinema argentino no Festival de Cannes é algo assustador nessas condições. Sempre teve uma representação bastante significativa em Cannes. Em 2024, o longa argentino "Simón de la Montaña", do diretor Federico Luis, foi o grande vencedor da Semana da Crítica do Festival de Cinema de Cannes 2024. Um filme primoroso sobre um garoto acolhido por jovens com deficiências da sua idade, levando a um convívio bastante particular, alterando seu olhar sobre o “normal”. Um filme bastante reflexivo sobre esse mundo normal em que vivemos. O filme está disponível na Netflix.
A realizadora argentina, Lucrécia Martel, consagrada entre os grandes nomes do Cinema Mundial, já esteve duas vezes em Cannes, em 2004 com o longa-metragem “La Niña Santa” e 2008 com “Mujer Sin Cabeza”.
Em 2014, com uma grande participação do cinema argentino, o longa “Relatos Selvajes”, se destacava no Festival de Cannes. O filme, que traz um misto de sentimentos, mas que arranca bons risos do público, traz a força do cinema argentino que vinha pujante. “Relatos Selvajes”, de Damián Szifrón, 2014, é um filme dividido em 6 episódios de pura barbárie, algo que somente a civilização pode nos proporcionar. E aquela briga de trânsito no terceiro episódio, é muito difícil de esquecer, é algo fascinante na linguagem cinematográfica. O filme está disponível na plataforma do Max e para quem ainda não assistiu é uma boa sugestão para um sábado.
Um dos grandes realizadores da história do Cinema Argentino, Leopoldo Torre Nilsson teve sua obra, "La Mano en la Trampa', de 1961, premiada no Festival de Cannes no mesmo ano, com o prêmio FIPRESCI. "La Mano en la Trampa' é um clássico do cinema argentino.
Infelizmente a América Latina perde com a ausência da Argentina em Cannes, e o que será do país com toda a agressividade de Milei com a cultura? É algo que realmente nos deixa apreensivos. Qualquer rivalidade entre brasileiros e argentinos nesse momento não é nada inteligente. O que vem ameaçando a América Latina é motivo de união e defender nossa indústria cinematográfica, que é um grande reforço para a economia e autonomia de cada país do grande continente, é fundamental.
É muito pertinente lembrar que o Brasil, na gestão desastrosa de Bolsonaro, também tivemos nossa indústria paralisada e a nossa sorte foi o retorno do governo Lula e a sombra maldita do fascismo nos ronda e não nos deixa em paz.
Resultado que esse ano e neste dia podemos estar antecipando o Carnaval e comemorando nossa segunda Palma de Ouro com o Festival de Cannes com o filme de Kleber Mendonça Filho, “O Agente Secreto”, mas se vier um prêmio de melhor direção ou Grand Prix, já seria motivo de festa, pois o cinema nacional vem desfrutando de um bom momento de visibilidade, porém, não podemos esquecer que ainda temos muitos problemas na nossa indústria cinematográfica, que vai desde a distribuição até a baixa representatividade de pessoas negras no cinema e audiovisual brasileiro, e quando se fala de mulheres negras ainda é mais desolador e precisamos de um sinal de mudanças e quem está no topo tem que defender um cinema mais diverso, igualitário e com uma distribuição que escoe nossa produção para os quatro cantos do país com salas públicas de cinema ou com políticas incentivando cineclubes.
A nossa relação com Cannes é antiga, desde o excelente, “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, de 1953. O filme foi premiado como melhor filme de aventura, levando a cultura nordestina para a Europa. Nessa época ainda não havia Palma de Ouro. Disponível no YouTube no Canal Oldbrcinema
Mas o nosso cartão de visitas é o grande vencedor da Palma de Ouro em Cannes de 1962, “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte. O Brasil recebia Anselmo Duarte e a Palma de Ouro como se tivesse ganho a Copa do Mundo de Futebol. O nosso famoso Zé do Burro que enfrentou a igreja católica com toda a sua humildade, desnudando uma igreja composta por reles humanos pecadores e hipócritas, enquanto Zé do Burro era apoiado e acolhido pelo povo. Para quem cometeu o sacrilégio de não ter visto esse filme, corre lá. O filme está disponível no YouTube no Canal do Cine Antiqua
O Brasil “bate-ponto” todos os anos em Cannes, somos praticamente sócios. Já tivemos Glauber Rocha sendo reconhecido com a Melhor Direção no Festival em 1969, com o filme "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro".
Neste ano de 2025 o Brasil foi escolhido como o país de honra do Festival de Cannes no Marché du Film 2025, em torno de 400 profissionais do cinema de todas as partes do país estão nos representando. É uma excelente oportunidade de negócios e coproduções e parcerias.
Outro país sócio de Cannes da América Latina é o Chile, que levou o grande prêmio de melhor filme na categoria Um Certo Olhar, com o longa-metragem, "La Misteriosa Mirada del Flamenco", de Diego Céspedes, seguido do longa colombiano ‘Un poeta’, de Simón Mesa Soto, nesta edição de 2025 do Festival de Cannes.
O Chile também se destacou em 2023 com o longa-metragem "Os Colonos", do cineasta Felipe Gálvez Haberle, que estreou sua obra em Cannes na categoria Um Certo Olhar, premiado com FIPRESCI.
O longa chileno é um filme que impressiona e se destaca nas produções dos últimos anos. Com elementos de Western, fazendo alusão a campanha expansionista estadunidense que praticamente exterminou muitos povos indígenas, mostra um Chile com uma campanha civilizatória e de extermínio dos povos originários do sul do chile. O filme está disponível na Mubi.
O longa-metragem “Whisky”, de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella, fez história em 2004 no Festival de Cannes sendo premiado na categoria Um Certo Olhar, impulsionando a produção de filmes no Uruguai, que voltaria para Cannes com “El Baño del Papa”, de César Charlone y Enrique Fernández, um filme que traz a fé do povo misturado ao pragmatismo, querendo aproveitar a vinda do Papa João Paulo II na cidade de Melo no Uruguai, para ganhar dinheiro.
Um filme ótimo para refletir a fé e a religião. O filme está disponível no YouTube no Canal Kevin Bentancur
Do México também temos grandes filmes que estiveram em Cannes. Apesar de ser espanhol exilado, dirigindo filmes no México, o nosso destaque vai para Luis Buñuel com “Los Olvidados”, em 1951, premiado com a Melhor Direção do Festival de 1951. O filme foi um soco no estômago na sociedade mexicana que, ao mesmo tempo que as grandes cidades se modernizavam, o povo cada vez mais ficava a margem, sofrendo com a miséria, com graves conflitos familiares e da educação, com jovens sendo submetidos a violência.
O filme foi um fracasso de bilheterias no México, mas se tornou um grande clássico do cinema mundial. Disponível no YouTube no Canal Uziel Migdael
Muitos países latino-americanos marcaram presença no Festival, Costa Rica, Guatemala, Peru, Cuba e demais países. É sempre bom ativar a memória e destacar a competência e a qualidade dos nossos técnicos do cinema, nossos cineastas. Infelizmente, por mais que sejam reconhecidos em Cannes, esses filmes raramente chegam nos cinemas, a não ser os nacionais.
Essas foram apenas algumas dicas de filmes que se destacaram em Cannes, pois a lista é gigante. Vamos ficar na torcida, pelo nosso representante em Cannes “O Agente Secreto”, de Kléber Mendonça Filho.
Bom filme a todes!
Por Angelo Corti, idealizador da página Cine Livre Latino-Americano
Vix, streaming da Televisa, começará a ofertar pacotes com Disney+
Na última quarta-feira, 21 de maio, as duas gigantes do audiovisual, Televisa e Disney, anunciaram que estão se unindo para oferecer um pacote combinado das suas plataformas streaming.
No México, o streaming Vix da Televisa oferecerá uma assinatura do Disney+ a partir do começo de junho. Já nos EUA, a Disney oferecerá um pacote com os canais pagos e abertos da Televisa estejam disponíveis no Hulu, serviço de streaming da Companhia Walt Disney que está disponível apenas no mercado estadunidense.
Combinar o catálogo de duas plataformas em uma única assinatura é alternativa inédita que as empresas encontraram para evitar a rotatividade e aumentar sua base de assinantes. Empresas decidem juntar seus catálogos em um único pacote e ofertá-lo com desconto aos clientes. Como nunca pensaram nisso antes na história do audiovisual, não é mesmo?! (No TaviLatam)
Panamá será destaque no próximo Festival de Berlim e Málaga
Considerado um dos países que mais investem em cinema na América Central, o Panamá anunciou no início do mês uma nova parceria para estar presente no Festival de Berlim e de Málaga, na Espanha, que já se tornou inclusive um dos maiores hubs para o cinema latino.
Estes novos acordos são frutos de um 2024 histórico: foram 29 títulos internacionais a procurarem o Panamá como locação para suas histórias, o que aqueceu a vontade do governo em impulsionar ainda mais sua internacionalização.
A edição de 2026 do Festival de Berlim será a primeira para o Panamá. A visibilidade no mercado alemão e europeu é motivo para se comemorar, já que o tradicional Berlinale segue sendo uma vitrine de oportunidades e um dos termômetros mais interessantes para a categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar.
Além disso, o Panamá chega ao Festival de Málaga como convidado de honra também do próximo ano. O tradicional festival espanhol já se tornou um ponto estratégico para o cinema latino e suas parcerias na península ibérica.
O boom dos centro-americanos já se resume em dinheiro para o país: só em 2024, a Film Commission do Panamá arrecadou US$ 20 milhões somente com a atividade de atração de filmagens estrangeiras. (No EcoTV)
Festival de Cinema uruguaio volta aos holofotes após presença em Cannes
Foi o terceiro ano de participação do José Ignacio International Film Festival (JIIFF) em Cannes, um dos mais prestigiados festivais do Uruguai.
Mas, ao contrário dos anos passados, este novo encontro contou com o fechamento de uma parceria com a Mostra São Paulo, que promete trazer já para as edições do ano que vem um intercâmbio maior de filmes brasileiros e uruguaios entre os festivais.
Além disso, a MUBI também já colocou seus olhos sob o cinema uruguaio e também podem renovar seu catálogo com mais títulos do paisito. (No Búsqueda)